A Escola Pública e sua decadência.
Constantemente se ouve “antigamente era tudo
decoreba, cultura inútil, escola elitista”. Isso passou a ser o bordão de
muitas palestras. Condenar o velho para se implantar o novo.
Sabemos
que houve o tempo da palmatória, das reguadas, dos beliscões, de ajoelhar no
milho e outras formas de castigo inadmissíveis na atualidade. Também não peguei
essa época, ou onde estudei não havia esses castigos. Recentemente, participei
de um curso para professores de matemática, falando sobre a leitura nas aulas
de matemática, como se fossemos professores alfabetizadores. Escola onde
estudei, no Grupo Escolar Jardim Santo Eduardo em 1968, quando tirei o diploma
do antigo “Primário”, cujo meu professor chamava-se “Sr. Leonardo”, eu tenho fotos
da minha formatura até hoje.
Para
nossa primeira aula, fizemos um relato das primeiras experiências com as letras
e a escola. Ouvi histórias tenebrosas, saídas de um filme de terror.
Professores carregados de preconceito de raça e outras barbaridades. Sinto-me
privilegiado por ter estudado em escola cuja filosofia não incluía esses
castigos. Eu nunca sofri um castigo desses e nunca vi na minha sala alguém que
tenha sofrido, pelo menos nunca presenciei esse fato. Este é um lado da escola
antiga, mas não era regra da mesma e nem todo professor adotava esses métodos.
O
outro lado nos mostra um aluno empenhado em aprender, em estudar, pois era pra
isso que frequentávamos os bancos escolares. Os pais apoiavam os mestres. O
sistema educacional passou por inúmeras mudanças: a primeira delas eliminou as
notas e passou-se aos conceitos. Ninguém mais seria reprovado por décimos como
costumava acontecer.Os conceitos levaram ao Conselho de Classe; para se reprovar um aluno o Conselho deveria dizer sim ou não. Havia ainda o recurso, se não concordasse com a decisão, o aluno poderia pedir revisão.
Quanto aos processos de alfabetização passou-se do silábico para o construtivismo, ou seja, do Ba, Be, Bi, Bo ,Bu , das cartilhas com lições prontas, para o processo da própria criança CONSTRUIR seu conhecimento, por associações e semelhanças.
No papel, tudo muito bonito, entusiasmos, alegrias. Mas a realidade era outra. Que professores aplicariam, ou utilizariam esse processo? Estavam eles preparados? Cursos de uma semana, ou durante o recesso escolar, levariam os mestres, a saber, exatamente como agir em sala de aula? Não! Impossível. Não se faz mudanças de uma hora para outra. Sofreram os alunos e sofreram os mestres. Mestre sim, pois foi outra coisa que foi tirada dos professores, além da honra, o respeito, a dignidade. O aluno com seus 11/12 anos (doze), na sexto ano (5ª série) sem saber ler e/ou escrever, isso é uma coisa ridícula, e o pior o professor de matemática tem que ficar alfabetizando alunos assim, deixando toda a matéria para trás.
Aliado a isso, a sociedade mudou completamente. O mundo andava devagar, as notícias demoravam a chegar, as mudanças eram lentas. O Brasil levou 470 anos para ter 90 milhões de habitantes e de repente, em 40/43 anos passou a +- 200 milhões. Evidentemente esse boom populacional trouxe mudanças sociais profundas. As escolas incharam, a escala de valores da sociedade mudou seu eixo. Passou-se a cultura do corpo em detrimento do desenvolvimento da mente. Tudo passou a ser permitido.
Professor perdeu sua autoridade, porque os pais também a perderam. Quem mandava agora eram os filhos e os pais só obedeciam. Reflexo disso foi para a sala de aula, a nova educação, uma nova forma de família. O ensino não mais poderia ser o mesmo. A vida passou da TV / cinema mudo em preto/branco, para uma vida em clipe colorida. Tudo muito rápido e os professores precisavam atrair a atenção dos alunos com malabarismos que nem eles mesmos sabiam se não derrubariam os malabares. A escola do circo e das brincadeiras. Estudo sério, responsabilidade, provas, cobrança está muito maleável, senão como dizem as pedagogas, as crianças ficam traumatizadas.
Aliado a tudo isso, as drogas entraram na vida cotidiana das famílias de tal forma que os pais passaram a serem os usuários e as crianças a conviver com isso. Os ídolos passaram a serem os bandidos e não mais os mocinhos. “E agora, José?” O que ensinar? A quem ensinar? Para que ensinar? A sociedade precisa encontrar seu rumo para que a escola encontre o dela.
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