O Brasil de Getulio a Lula/Dilma:
Sociedade e cultura nos anos 1950/2014.
Sociedade e cultura nos anos 1950/2014.
O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, alterou
significativamente o cenário internacional, com a divisão do mundo em dois
blocos político-militares liderados pelas duas superpotências emergentes: EUA e
URSS. O esforço de
ampliação da área de influência econômica, política e ideológica dos EUA
implicou o estímulo à penetração da cultura norte-americana não só em países
latino-americanos como o Brasil - na verdade, esse processo já se iniciara aqui
desde os tempos da guerra, com o alinhamento do Brasil aos EUA -, mas também na
Europa. Reforçado pela prosperidade econômica norte-americana no pós-guerra,
difundia-se em todo o mundo ocidental um espírito de otimismo e de esperança,
um novo modo de viver propiciado pela produção em massa de bens manufaturados
de uso pessoal e doméstico.
No Brasil, essas
transformações foram se consolidando ao longo da década de 1950 até 1970, e
alteraram o consumo e o comportamento de parte da população que habitava os
grandes centros urbanos. A paisagem urbana também se modernizava, com a
construção de edifícios e casas de formas mais livres, mais funcionais e menos
adornadas, acompanhadas por uma decoração de interiores mais despojada, segundo
os princípios da arquitetura e do mobiliário moderno. Através da propaganda
veiculada pela imprensa escrita, é possível avaliar a mudança nos hábitos de
uma sociedade em processo de modernização: produtos fabricados com materiais
plásticos e/ou fibras sintéticas tornavam-se mais práticos e mais acessíveis. Consolidava-se a
chamada sociedade urbano-industrial, sustentada por uma política
desenvolvimentista que se aprofundaria ao longo da década, e com ela um novo
estilo de vida, difundido pelas revistas, pelo cinema - sobretudo norte-americano
- e pela televisão, introduzida no país em 1950.
A consolidação da chamada sociedade de massa no
Brasil trouxe consigo a expansão dos meios de comunicação, tanto no que se
refere ao lazer quanto à informação, muito embora seu raio de ação ainda fosse
local. O rádio cresceu no início dos anos 50, quando houve um aumento da
publicidade. As populares radionovelas, por exemplo, tinham como complemento
propagandas de produtos de limpeza e toalete. Na televisão, a publicidade não
se limitava a vender produtos, e as próprias empresas eram produtoras dos
programas que patrocinavam. Houve um aumento da tiragem dos jornais e revistas,
e popularizaram-se as fotonovelas, lançadas no
início da década. O cinema e o teatro também participaram desse processo, tanto
do lado das produções de caráter popular quanto das produções mais
sofisticadas. No caso do cinema, as populares chanchadas, comédias musicais
produzidas pela Atlântida, empresa criada nos anos 40, tiveram seu auge nos
anos 50, e seus atores foram consagrados pelo público. O teatro de revista, que
também misturava humor e música, fazia bastante sucesso. Apesar de originárias
da década de 1940, as experiências tanto de um cinema industrial, como foi o
caso daquele produzido pela Vera Cruz, quanto de um teatro menos popular, como
o do Teatro Brasileiro de Comédia, ainda perduraram ao longo dos anos 50.
Se o otimismo e a esperança implicaram profundas
alterações na vida da população em todo o mundo, permitindo, não a todos, mas a
uma parcela - os setores médios dos centros urbanos -, consumir novos e mais
produtos, por outro lado, a vontade do novo trazia embutido, em várias áreas da
cultura, o desejo de transformar a realidade de um país subdesenvolvido, de
retirá-lo do atraso, de construir uma nação realmente independente.
O entusiasmo pela possibilidade de construir algo
novo implicou o surgimento e/ou o impulso a vários movimentos no campo
artístico. Eram novas formas de pensar e fazer o cinema, o teatro,
a música, a literatura e a arte que se aprofundavam, como
revisão do que fora feito até então. Em alguns casos, consolidou-se um
movimento que já se iniciara em décadas passadas. Mas outros movimentos
nasceram exatamente naquele momento e se tornaram marcos e/ou referências de
renovações estéticas que viriam a se firmar mais plenamente depois. Guardando
suas especificidades, e em graus diferenciados, tanto o cinema, quanto o
teatro, a música, a poesia e a arte, movidos pela crença na construção de uma
nova sociedade - fosse ela industrial, fosse ela centrada na valorização do
elemento nacional e popular - abraçavam expressões artísticas e estéticas
inovadoras que vinham sendo praticadas não só em outras partes do mundo, mas
também no próprio país. Essa foi, em linhas gerais, a marca do processo de
renovação estética em curso ao longo da década de 1950. Por outro lado, o vigor
do movimento cultural encontrava eco junto a setores das camadas médias urbanas
em franca expansão, sobretudo universitárias, sintonizadas com o espírito
nacionalista da época, e com a crença nas possibilidades de desenvolvimento do
país.
A identificação dos chamados "anos
dourados" com o espírito otimista que consagrou o governo Kubitschek
acabou, assim, por englobar todo um conjunto de mudanças sociais e
manifestações artísticas e culturais que ocorreram dentro de um debate mais
geral sobre a reconstrução nacional, em curso desde o início dos anos 50 até os
primeiros anos da década seguinte.
Apresentação
Aniversários e comemorações são momentos
importantes na vida de indivíduos, instituições e países. Segundo o historiador
francês Philippe Raynaud, "comemoração é a cerimônia destinada a trazer de
volta a lembrança de uma pessoa ou de um evento", algo que "indica a ideia
de uma ligação entre os homens, fundada sobre a memória". Essa ligação
também pode ser chamada de identidade. É exatamente porque permitem legitimar e
atualizar identidades que as comemorações públicas ocupam lugar central no
universo político contemporâneo.
Comemorar tem a ver com o passado, mas
principalmente com o futuro. Procuram-se meios de retirar o passado do
esquecimento com o objetivo de descobrir perspectivas novas e positivas. Mas
nem sempre as comemorações resultam de um consenso ou o produzem: ao contrário,
podem revelar tensões e conflitos e constituir uma boa oportunidade para
avaliações e críticas.
No ano de 2002, fez cem anos que nasceu Juscelino
Kubitschek, o presidente que governou o Brasil de 31 de janeiro de
1956 a 31 de janeiro de 1961. A comemoração de seu centenário ofereceu uma
ocasião privilegiada para esse duplo exercício: evocar o passado, mas também
refletir sobre ele de maneira crítica. Essa reflexão começou, aliás, nos anos
90, quando o questionamento de um modelo de desenvolvimento econômico que foi
inaugurado por Vargas,
e atingiu sua plena expressão no governo de JK, colocou em pauta grandes temas
para um debate nacional. Desde então, a abertura da economia, a privatização
das empresas estatais, os limites e contornos da ação do Estado e,
principalmente, o dilema entre a implementação de políticas desenvolvimentistas
que propiciem elevadas taxas de crescimento e o compromisso com um programa de
controle das contas públicas e de ajuste fiscal, integram uma agenda de
discussões que tem sensibilizado diferentes setores da sociedade brasileira,
preocupados em melhorar as estratégias para o futuro do país.
O governo JK representa no imaginário político
brasileiro uma Idade de Ouro. É visto como uma época marcante da história do
Brasil, como o momento de um grande arranco desenvolvimentista, consolidado
através de políticas que estimularam a industrialização e resultaram em altas
taxas de crescimento. São esses elementos positivos, que ficaram gravados na
memória coletiva nacional, que fazem com que muitos dos líderes políticos
atuais evoquem JK como referência para suas ações.
No entanto, o governo JK também enfrentou muitos
desafios e impasses: a inflação, o endividamento externo, os embates com o FMI
e a ameaça de desaceleração do crescimento. As tentativas do ministro da
Fazenda Lucas Lopes
de conciliar crescimento com estabilidade monetária mostraram ser de difícil
aceitação. O combate à inflação e o controle dos gastos públicos foram
preocupações abandonadas pelo governo JK, o que resultou na gestação de uma
grande crise econômico-financeira que viria a eclodir em toda a sua extensão na
década
seguinte.
De toda forma, os anos JK mudaram a cara do país. A
grande meta a ser atingida, concordam todos os analistas do período, era o
desenvolvimento. Desde o fim da Segunda Guerra, e sobretudo a partir dos anos
50, o Brasil vinha passando por mudanças significativas em sua estrutura
produtiva. Para começar, houve uma maior diversificação da atividade
industrial, que recebeu um impulso ao longo do conflito mundial devido à
necessidade de substituição das importações. Ao mesmo tempo que a indústria se
fortalecia, o Estado assumia um papel fundamental, ao implementar políticas de
desenvolvimento e, muitas vezes, tornar-se ele próprio um agente econômico.
Esse processo, iniciado no governo Vargas (1951-1954) e acelerado no governo
JK, correspondeu em certo sentido ao surgimento de novos segmentos intelectuais
com perfil diferente daqueles de formação essencialmente humanística. Esses
novos grupos de influência eram constituídos por profissionais com
conhecimentos técnico-científicos, muitos deles engajados na formulação de
políticas de desenvolvimento. Paralelamente, intensificava-se o processo de
formação de uma sociedade que reclamava não só bens de consumo, mas também bens
culturais.
O espírito do novo, a vontade de mudança
transcenderam as esferas econômica e política e contaminaram o domínio das
artes e da cultura. Importantes movimentos no campo artístico nasceram e/ou
tomaram novo impulso na segunda metade da década de 1950. Surgiram novas formas
de conceber o cinema, o teatro, a música, a poesia e as artes plásticas, em
decorrência de uma reflexão crítica acerca da produção existente e das
linguagens vigentes em cada um desses domínios. A arquitetura moderna, que
florescia no Brasil desde a década de 1930, foi consagrada com a construção de
uma cidade no Planalto Central, para servir de capital símbolo de uma nova era.
Esse movimento geral, que se identificava como
revolucionário na medida em que buscava construir o "novo",
experiências realizadas fora do país pretendia identificar e sintetizar
elementos da cultura e da sociedade brasileiras, integrando-os. A par da
construção do novo, a produção cultural do período caracterizou-se pela
valorização do popular como o fundamento mais genuíno da nacionalidade
brasileira. A efervescência do movimento cultural sintonizava-se tanto com o
espírito nacionalista que crescia na época, quanto com a crença nas
possibilidades de desenvolvimento e transformação do país.
A intenção deste trabalho é pôr à disposição do
público informações sobre uma época marcante da história do Brasil e contribuir
para a discussão sobre o futuro do país. Neste ano de 2014, o golpe militar
de 1964 estará completando 50 anos. Durante todo esse tempo foram produzidos
vários trabalhos sobre a oposição militar e civil ao governo de João Goulart.
Entretanto, sua própria trajetória como ator político, que o levou a ocupar o
mais alto cargo da República, e sua atuação no período de exílio permaneceram
temas obscuros, não merecendo maior atenção de estudiosos e pesquisadores.
Em março do ano passado, por ocasião do 49º
aniversário da instalação do regime militar no país, foram organizados
seminários e palestras, surgiram publicações acadêmicas, circularam suplementos
especiais da mídia voltados para a análise e discussão dos anos de chumbo da
história contemporânea do Brasil e, neste contexto, Goulart voltou à cena. O
mérito principal desse debate foi trazer para o campo historiográfico um
personagem esquecido e de grande relevância para o entendimento das lutas pela
construção da democracia no país. No entanto, um balanço das contribuições
apresentadas indica que as discussões apenas começaram. Primeiramente, os
próprios condicionantes impostos pelo formato dos eventos, relacionados
essencialmente ao regime militar, reservaram um lugar menos importante para
Jango e seu governo. Apenas alguns temas e aspectos de sua trajetória foram
objeto de exame, sendo ressaltados principalmente os impasses de seu governo,
que levaram à sua deposição. Um entendimento mais completo de seu papel na
história brasileira deve percorrer ainda uma ampla agenda de questões e estudos.
Na presidência da República: O sentido político da educação de Jango
O sentido político da educação de Jango
Pelos dados do IBGE, quando Jango
assume a presidência, em setembro de 1961, encontra um Brasil com 70.779.352
habitantes, 39,5% de analfabetos, distribuídos nas faixas de 15 a 69 anos. Da
população estudantil, 5.775.246 alunos estavam matriculados na rede do ensino
primário, 868.178 no ensino médio, 93.202 no ensino superior e 2.489 nos cursos
de pós-graduação. Esses dados revelam claramente a extensão do afunilamento da
estrutura educacional brasileira: menos de 15% da população estudantil do
ensino primário passava para o ensino médio; quase 2% da rede primária chegavam
ao ensino superior e apenas 0,5% à pós-graduação!
Esses dados são uma boa pista para tocarmos em três
pontos que traduzem a atmosfera do governo Jango na área da educação: a
discussão apaixonada com relação à escola pública; os programas de alfabetização
de adultos pelos movimentos sociais; e a questão dos "excedentes" – o
grande problema do ingresso ao ensino superior.
A discussão inflamada sobre a escola pública é, em
verdade, a retomada da bandeira do Movimento dos Pioneiros da Escola Nova que, na
década de 1920, defendia a democratização do acesso à educação e a montagem de
um sistema de âmbito nacional que garantisse aos cidadãos o direito à escola
pública, laica, obrigatória e gratuita. Essas preocupações são consubstanciadas
em 1932, com o lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nacional.
Portanto, quando em 1959, os educadores voltam à cena para lançar o segundo
manifesto – "Uma vez mais convocados" – estão sintonizados com uma
luta antiga, cujo eixo era, uma vez mais, o direito à escola pública,
obrigatória, laica e gratuita. O debate, desta feita, ficou concentrado em duas
lideranças nacionais: pelo lado da defesa da escola pública, Darcy Ribeiro;
em defesa da escola privada, o deputado Carlos
Lacerda. A imprensa da época registra a veemência desta polêmica,
com cartas trocadas, convicções assinaladas, de lado e outro, e acaloradas
acusações de parte a parte.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
promulgada em dezembro de 1961, acaba dando ganho de causa à emenda de Carlos
Lacerda, segundo a qual deveria ser assegurado às famílias o direito de
escolherem a melhor escola para seus filhos, fosse pública ou particular. Nessa
perspectiva, a União deveria dar subvenção e financiamento não apenas aos
estabelecimentos das redes públicas estaduais e municipais, mas também àqueles
mantidos pela iniciativa privada, para compra, construção ou reforma de prédios
escolares, instalações e equipamentos.
A mobilização em prol da educação atravessou a
década de 1960, e os movimentos que ali fermentaram dão bem o tom do período
histórico que teve Jango como presidente. A esquerda participou ativamente
deste movimento, cabendo à União Nacional dos Estudantes (UNE) liderar grande
parte do programa pedagógico, centrado na conscientização política e na
mobilização social. Seu principal instrumento foram os Centros Populares de Cultura
(CPCs), criados em 1961, com o intuito de levar teatro, cinema, artes
plásticas, literatura e outros bens culturais ao povo. Também centrados nos
mesmos objetivos de ampliar o universo cultural dos segmentos populares
brasileiros, os Movimentos de Cultura Popular (MCPs) receberam influência da
esquerda cristã. De todos esses movimentos, o Movimento de Educação de Base
(MEB) foi o que esteve mais diretamente vinculado à Igreja Católica, à
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), embora mantido economicamente
pelo governo federal. Iniciou seus trabalhos de alfabetização em 1961 e
dirigia-se igualmente às classes trabalhadoras, com o objetivo de ampliar o
universo cultural e educacional de amplos segmentos da população.
Mas falar de educação no período Jango é lembrar
também a expressão intelectual de maior vulto à época, o educador pernambucano Paulo Freire.
Associada à alfabetização de adultos, sua "pedagogia da libertação" –
expressão exemplar da crença no poder libertador pela consciência e pelo
conhecimento –percorreu o Brasil e toda a América Latina. A educação seria o
instrumento mais eficaz de difundir a idéia-força de que o homem não deveria se
contentar com a condição de "objeto" da história: sua vocação era ser
"sujeito". O mote "Todo ato educativo é um ato político" é
a síntese de todo um esforço de conscientização pela educação que o método
Paulo Freire pretendeu universalizar. Sistematizado em 1962, quando Freire
lecionava na Universidade Federal de Pernambuco, seu método de alfabetização de
adultos ficou conhecido por combinar conquistas da teoria da comunicação, da
psicologia e da didática, por não utilizar as tradicionais cartilhas e por
defender a necessidade de se produzir o material para o ensino a partir da fala
de cada grupo de analfabetos. O sucesso obtido pelo método nas primeiras
experiências desenvolvidas em Recife, no âmbito do MCP, propiciou sua difusão.
Em 1963, foi utilizado em Angicos e Natal (RN), Osasco (SP) e em Brasília. O
ambiente do início da década de 1960 foi propício ao seu desenvolvimento, e o
governo Goulart, um receptáculo estimulante para seu acolhimento. Com o golpe
de 1964, Paulo Freire exilou-se e a prática de seu método foi proibida no país,
apesar de seus livros continuarem a ser editados e vendidos livremente.
Finalmente, a questão dos "excedentes". O
número de alunos das universidades brasileiras vinha se expandindo enormemente
nos últimos vinte anos. A partir dos anos 1940, o crescimento da matrícula no
ensino superior foi vertiginoso: 152,8%, de 1940 a 1951; 78% de 1951 a 1960, e
57%, de 1960 a 1964. Não obstante essa elevada taxa de expansão, a procura pelo
ingresso no ensino superior não era nem de longe atendida. Anualmente, as
universidades indicavam o número de vagas, de acordo com a disponibilidade de
professores, espaço para salas de aula e equipamento disponíveis. Portanto, não
eram consideradas nem as necessidades da sociedade, nem a capacidade dos alunos
em ingressar. Os alunos que ultrapassavam as possibilidades de absorção das
escolas ficaram conhecidos como "excedentes". A bandeira dos
excedentes foi um dos pontos de discussão nos anos que antecederam a reforma
universitária que só seria completada em 1968, já sob o regime militar.
Desafios e rumos da política educacional
A política educacional do governo João Goulart
foi marcada pela atuação de dois dos seis titulares que ocuparam a pasta do
Ministério da Educação e Cultura no período: Darci Ribeiro,
que esteve à frente do ministério de setembro de 1962 a janeiro de 1963,
durante o gabinete chefiado pelo primeiro-ministro Hermes Lima;
e Júlio
Sambaqui, que ocupou a pasta no período presidencialista, de outubro
de 1963 até o golpe militar de abril de 1964.
Darcy Ribeiro deixou a reitoria da Universidade de
Brasília (UnB), para a qual havia sido nomeado em 1961, com a inauguração da
universidade que fora encarregado de planejar e estruturar, em 1959, pelo então
presidente da República, Juscelino
Kubitschek, para assumir a chefia do ministério. Substituiu Roberto Lira,
que ocupara a pasta no curto período do gabinete Brochado da
Rocha.
Assim que assumiu o cargo, submeteu o Programa de
Emergência do Ministério da Educação e Cultura para 1962, referente aos ensinos
primário e médio, ao Conselho de Ministros. Aprovado por decreto do Conselho, o
Programa permitiu a aplicação de recursos significativos em convênios assinados
entre o governo federal e os governos estaduais visando à ampliação de
matrículas e à intensificação da escolaridade. Indicativos do acatamento da
iniciativa do ministro foram, além da aprovação do Programa, a dispensa de
concorrência para a aplicação dos recursos e a convocação dos secretários de
Educação dos estados e territórios, pelo próprio presidente da República, para
a assinatura dos convênios em reunião realizada em Brasília.
A justificativa para a aprovação do Programa de
Emergência baseou-se na gravidade da situação educacional do país, expressa em
estatísticas do documento ministerial. Com relação ao ensino primário, apenas
46% das crianças de sete a 11 anos estavam matriculadas, sendo que, desse
total, a metade estava cursando a primeira série, apenas 21,4% alcançavam a
segunda, 19,3% a terceira e 14,1% a quarta. Com relação ao ensino médio, cuja
regulamentação era considerada centralizada e inadequada às necessidades do
desenvolvimento nacional, apenas nove de cada cem jovens teriam acesso a escolas
desse nível.
Em outubro de 1962 foi homologado o 1º
Plano Nacional de Educação, elaborado pelo Conselho Federal de Educação e tendo
como relator o professor Anísio
Teixeira. O Plano criou o Fundo Nacional de Educação e previu a
aplicação de 12% da receita de impostos da União à constituição desse Fundo,
cujos recursos seriam destinados, em iguais proporções, aos ensinos primário,
médio e superior. Embora estivesse prevista constitucionalmente, a aplicação
desse montante só aconteceu, de fato, durante a gestão de Darcy. O Plano
previa, ainda, a alfabetização, até 1970, de todas as crianças, adolescentes e
jovens entre sete e 23 anos. Para fazer frente a essa meta, o ministério
elaborou ainda o Plano Trienal de Educação, que deveria constar do planejamento
geral do governo para o período de 1963 a 1965, e previa a aplicação de
recursos nos três níveis de ensino em montantes mais substanciais do que
aqueles garantidos pela legislação – 12% da receita tributária em 1963, 15% em
1964 e 20% em 1965. A saída de Darcy Ribeiro do Ministério, em janeiro de 1963,
para assumir a chefia do Gabinete Civil da Presidência da República,
interrompeu o planejamento esboçado nos intensos cinco meses em que ocupou a
pasta.
O último ministro da Educação e Cultura do governo
Jango foi Júlio Sambaqui, nome ligado à educação profissional e que já vinha
atuando na direção do Departamento de Administração do Ministério. Sua gestão
foi marcada por iniciativas de incentivo ao programa de alfabetização de
adultos baseado no Método
Paulo Freire,
o que provocou fortes reações dos setores conservadores. Além disso, obteve a
adesão dos serviços de teatro, cinema, rádio e televisão aos programas de
educação do Ministério, e apoiou as caravanas da cultura promovidas por Paschoal
Carlos Magno, que levavam atividades culturais e educativas a
diversas regiões do país.
No campo do ensino primário, promoveu a
suplementação do salário dos professores do interior para evitar o abandono do
ensino, bem como campanhas intensivas de formação e aperfeiçoamento do
magistério, entre outras iniciativas. Na área do ensino médio, desenvolveu a
Campanha para Formação Intensiva da Mão-de-Obra Industrial, tendo em vista a preparação
de operários para a indústria. Em relação ao ensino superior, duplicou o número
de vagas nas faculdades visando ao aproveitamento integral dos candidatos
aprovados nos exames vestibulares. Com essa medida, buscava resolver a grave
crise que o problema dos excedentes vinha gerando nos meios estudantil e
universitário. Com o golpe militar que depôs João Goulart, em abril de 1964,
Júlio Sambaqui foi exonerado do ministério e as iniciativas renovadoras de sua
gestão, suspensas.
Vale mencionar que a reforma universitária
integrava o elenco das "reformas de base" que constituíram o programa
de governo do presidente João Goulart, contemplando, entre outras questões, a
defesa da autonomia universitária e da liberdade docente no exercício do magistério,
bem como a abolição da vitaliciedade da cátedra. Os governos militares
assumiram a bandeira dessa reforma, limitando-a, contudo, a medidas de
modernização administrativa e pedagógica. O problema dos excedentes persistiu e
a estratégia adotada para enfrentá-lo, ao longo da década de 1970, teria como
base a liberalização nas autorizações para a abertura de instituições de ensino
superior privadas no país.
Os militares e o governo João Goulart
Após a renúncia de Jânio Quadros,
ocorrida em 25 de agosto de 1961, os três ministros militares manifestaram-se
contra a posse de João Goulart
devido a suas posições políticas, consideradas de esquerda. Imediatamente, o
governador do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola, apoiado pelo comandante do III Exército, José Machado
Lopes, formou a Cadeia da Legalidade, dispondo-se a lutar pela posse do
vice-presidente. Esta posição contou com o apoio de vários oficiais-generais
que serviam em outros pontos do país. O impasse foi superado com a adoção
provisória do sistema parlamentarista, com o qual João Goulart iniciou seu
governo, em 7 de setembro de 1961.
A
cisão militar ocorrida durante esse episódio persistiu durante todo o governo
de Jango. Setores nacionalistas das Forças Armadas, articulados ao movimento
sindical e a setores da esquerda, apoiaram abertamente importantes iniciativas
políticas de Goulart, tais como a defesa das "reformas de base" e a
antecipação do plebiscito sobre o sistema de governo, previsto inicialmente
para o início de 1965. Realizado em 6 de janeiro de 1963, o plebiscito
restaurou o presidencialismo. Os generais mais ligados a Goulart tornaram-se
informalmente conhecidos como "generais do povo".
No mesmo período, aumentou a politização de setores
da baixa hierarquia das Forças Armadas – os "praças" (sargentos,
cabos, soldados e marinheiros). Em 12 de setebrmo de 1963 estourou em Brasília
uma rebelião liderada por sargentos da Aeronáutica e da Marinha, revoltados
contra a decisão do STF de não reconhecer a elegibilidade dos sargentos para o
Legislativo (princípio vigente na Constituição de 1946). Embora o movimento
tenha sido facilmente controlado, a posição de neutralidade adotada por Goulart
levantou suspeitas e temores entre setores politicamente conservadores e grande
parte da alta e média oficialidade militar. Crescia a preocupação com a possibilidade
de um eventual golpe de Estado de orientação esquerdista, baseado nas praças, e
com a quebra dos princípios de hierarquia e disciplina vigentes nas Forças
Armadas.
Esses temores fortaleceram a oposição de setores
militares à política adotada por Goulart, principalmente aqueles que se haviam
manifestado contra a sua posse. Muitos deles, inclusive, passaram a se envolver
em ações que visavam a desestabilizar o governo. Mesmo oficiais de posições
legalistas manifestaram-se preocupados com a situação. Ainda em setembro, por
exemplo, o general Peri
Bevilaqua, então comandante do II Exército, sediado em São Paulo,
divulgou ordem-do-dia contra o movimento ocorrido em Brasília, a infiltração
esquerdista e a atuação política do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) nos
quartéis. Como consequência, foi exonerado do comando. A situação agravou-se em
outubro, quando, diante da repercussão de uma entrevista ao jornal Los
Angeles Times, concedida pelo governador da Guanabara, Carlos
Lacerda, na qual combatia violentamente Goulart e criticava os
chefes militares, os ministros militares solicitaram ao presidente a decretação
do estado-de-sítio. O pedido foi encaminhado ao Congresso, mas, diante da
reação negativa da maioria dos parlamentares, Goulart viu-se obrigado a retirá-lo.
Com
isso, oficiais até então neutros passaram a apoiar a conspiração, erodindo-se
progressivamente a base de apoio militar ao presidente. Em 20 de março de 1964,
o general Humberto Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército, enviou
uma circular reservada à oficialidade do Exército advertindo contra os perigos
do comunismo. Esses temores se agravaram com a eclosão, no dia 28, de uma
revolta de marinheiros e fuzileiros navais no Rio, concentrados na sede do
Sindicato dos Metalúrgicos. Goulart recusou-se a punir os insubmissos,
deixando-os sair livres, o que gerou uma profunda crise entre a oficialidade da
Marinha. No dia 30, Goulart compareceu, na condição de convidado de honra, a
uma festa promovida pela Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia
Militar, na sede do Automóvel Clube.
Esses eventos precipitaram a deflagração do
movimento golpista, iniciado em Minas Gerais na madrugada de 31 de março.
Goulart foi sucessivamente instado por seus principais chefes militares quer a
ordenar o ataque aos revoltosos, quer a extinguir o CGT, rompendo com a
esquerda. Como Goulart recusou-se a assumir essas duas linhas de ação, em
poucas horas viu-se sem alternativa a não ser deixar o governo.
A vitória dos militares golpistas levou a um grande
expurgo dos oficiais que apoiaram Goulart e das praças que se mobilizaram
politicamente durante seu governo.
A conjuntura de radicalização
ideológica e o golpe militar: O golpe de 1964
O golpe de 1964
O
golpe militar foi deflagrado na madrugada do dia 31 de março, com a
movimentação de tropas comandadas pelo general Olímpio
Mourão Filho, no estado de Minas Gerais, que saíram em direção ao
Rio de Janeiro. A falta de reação do governo e dos grupos que lhe davam apoio
foi notável. Não se conseguiu articular uma reação dos militares legalistas.
Também fracassou uma greve geral proposta pelo Comando Geral dos Trabalhadores
(CGT) em apoio ao governo. João Goulart,
em busca de segurança, viajou no dia 1o de abril do Rio, onde se
encontrava no momento do golpe, para Brasília, e em seguida para Porto Alegre,
onde Leonel
Brizola tentava organizar a resistência, com apoio de oficiais
legalistas, a exemplo do que ocorrera na Cadeia da Legalidade, em 1961. Apesar
da insistência de Brizola, Jango desistiu de um confronto militar com os
golpistas e seguiu para o exílio no Uruguai, de onde só retornaria ao Brasil
para ser sepultado, em 1976.
Antes mesmo de Jango deixar o país, o presidente do
Senado, Auro de Moura
Andrade, já havia declarado vaga a presidência da República. O
presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri
Mazzilli, assumiu interinamente a presidência, conforme previsto na
Constituição de 1946 e como já ocorrera em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.
O poder real, no entanto, encontrava-se em mãos militares. No dia 2 de abril, o
general Costa e Silva
enviou uma notificação a todos os comandos militares informando-os que, em
virtude de ser o membro do Alto Comando mais antigo, assumia o comando do
Exército. Desse modo, Costa e Silva auto-nomeava-se Comandante-em-Chefe do
Exército, cargo habitualmente exercido pelo Presidente da República. Costa e
Silva organizou, no dia 2, o "Comando Supremo da Revolução", composto
por três membros: o brigadeiro Francisco de
Assis Correia de Melo (Aeronáutica), o vice-almirante Augusto
Rademaker (Marinha) e ele próprio como representante do Exército e
homem-forte do triunvirato.
Nesses primeiros dias após o golpe, uma violenta
repressão atingiu os setores politicamente mais mobilizados à esquerda no
espectro político, como a União Nacional dos Estudantes, a Confederação Geral
dos Trabalhadores, as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude
Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). Milhares de pessoas foram
presas de modo irregular, e a ocorrência de casos de tortura foi comum,
especialmente no Nordeste. O líder comunista Gregório
Bezerra, por exemplo, foi arrastado amarrado pelas ruas de Recife.
O golpe militar foi saudado por importantes setores
da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos
proprietários rurais, da Igreja Católica, vários governadores de estados
importantes (como Carlos
Lacerda, da Guanabara, Magalhães
Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de
Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média pediram e
estimularam a intervenção militar, como modo de pôr fim à ameaça de
esquerdização do governo e de se controlar a crise econômica. O golpe também
foi recebido com alívio pelo governo norte-americano, satisfeito de ver que o
Brasil não seguia o mesmo caminho de Cuba. Os Estados Unidos acompanharam de
perto a conspiração e o desenrolar dos acontecimentos, principalmente através
de seu embaixador no Brasil, Lincoln
Gordon, e do adido militar, Vernon
Walters, e haviam decidido, através da secreta "Operação
Brother Sam", dar apoio logístico aos militares golpistas, caso estes
enfrentassem uma longa resistência por parte de forças leais a Jango.
A
falta de resistência ao golpe não deve ser vista como resultado da derrota
diante de uma bem-articulada conspiração militar. Foi clara a falta de
organização e coordenação entre os militares golpistas. Mais do que uma
conspiração única, centralizada e estruturada, a imagem mais fidedigna é a de
"ilhas de conspiração", com grupos unidos ideologicamente pela
rejeição da política pré-1964, mas com baixo grau de articulação
entre si. Não havia um projeto de governo bem definido, além da necessidade de
se fazer uma "limpeza" nas instituições e recuperar a economia. O que
diferenciava os militares golpistas era a avaliação da profundidade necessária
à intervenção militar.
Os
militares que apoiaram o golpe justificaram seus atos afirmando que seu
objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e
destruir o "perigo comunista" que, imaginavam, pesava sobre o Brasil.
Eles também acreditavam que o regime democrático instituído no Brasil após 1945
não fora suficiente para se contrapor a esse inimigo. Os militares, no entanto,
sempre enfatizaram, com razão, o fato de que "não estavam sós", isto
é, que o golpe de 1964 não foi de sua exclusiva iniciativa, e sim resultado da
confluência e do apoio de importantes segmentos da sociedade civil, preocupados
com a possibilidade de que a esquerda conquistasse o poder no Brasil.
Já
no início da "Revolução" ficou evidente uma característica que
permaneceria durante todo o regime militar: a busca de se preservar a unidade
por parte dos militares no poder, apesar da existência de conflitos internos
nem sempre bem resolvidos. O medo de uma "volta ao passado" (isto é,
à realidade política pré-golpe) ou de uma ruptura no interior das Forças
Armadas estariam presentes durante os 21 anos em que a instituição militar
permaneceu no controle do poder político no Brasil. Mesmo desunidos
internamente em muitos momentos, os militares demonstrariam um considerável
grau de união sempre que vislumbrassem alguma ameaça "externa"
à "Revolução", vinda da oposição política.
Exílio no Uruguai: O Brasil
pós-golpe
O Brasil pós-golpe
No
dia 1º de abril de 1964, Jango
deixava Brasília rumo a Porto Alegre e, em seguida, ao exílio no Uruguai,
assumindo o governo, em caráter provisório e de acordo com a fórmula
constitucional, Ranieri
Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. No entanto, o poder de
fato passou a ser exercido por uma junta governativa formada pelos três
ministros militares — o general Artur da Costa e Silva, da Guerra, o
vice-almirante Augusto
Rademaker Grünewald, da Marinha e o tenente-brigadeiro Francisco de
Assis Correia de Melo, da Aeronáutica.
Se
auto-proclamando membros do Supremo Comando Revolucionário a junta promulga, no
dia 9 de abril, o Ato Institucional n° 1, mudando as regras do jogo democrático.
Esse ato conferia ao Executivo cobertura legal para a cassação de mandatos e a
suspensão dos direitos políticos de parlamentares, políticos, intelectuais,
diplomatas e membros das Forças Aramadas, além de garantir poder para declarar
o estado de sítio, podendo prorrogá-lo por 30 dias, sem prévia autorização do
Congresso.
No dia seguinte, o general Humberto Castelo Branco
é eleito pelo Congresso presidente da República. Castelo Branco, militar da
linha moderada do Exército, muito próximo aos EUA, foi um dos principais
articuladores da conspiração militar contra Jango e gozava de grande prestígio
junto aos oficiais da ativa. O novo governo congregará políticos conservadores
da União Democrática Nacional (UDN) e tecnocratas, além de militares.
Do
ponto de vista político, era preciso definir a nova base de sustentação do governo.
O apoio dado pelas classes médias, logo após a deflagração do golpe, começava a
ser minado não só pelas medidas repressivas tomadas pelo novo governo, mas
sobretudo pelo caráter impopular do programa de estabilização econômica levado
a cabo por Roberto
Campos e Otávio
Bulhões, respectivamente ministros do Planejamento e da Fazenda.
Tanto isso é verdade que, em outubro de 1965, a oposição consegue sair
vitoriosa das eleições para os governos de dois importantes estados, Minas
Gerais e Guanabara. Em represália, o governo promulga, ainda em outubro, o Ato
Institucional n° 2 que, entre outras medidas de exceção, dissolve todos os
partidos políticos e estabelece eleições indiretas para presidente da República
e governadores. No final de novembro são definidas as regras a serem seguidas
na reorganização partidária, que deram origem à instalação do bipartidarismo no
país: de um lado, a agremiação governista Aliança Renovadora Nacional (Arena)
e, de outro, o oposicionista Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Do
ponto de vista econômico, o governo Castelo Branco desenvolveu uma rígida
política antiinflacionária, necessária para cumprir a agenda de compromissos
financeiros internacionais do país. A impopularidade advinda da política
econômica e das medidas repressivas do governo, atingindo inclusive políticos
que haviam apoiado a conspiração e o golpe militar, aprofunda a crise política
e conduz Castelo Branco a um fechamento cada vez maior do regime. Em outubro de
1966, sob o protesto do MDB, o Congresso elegeu o general Artur da Costa e
Silva para substituir Castelo Branco na presidência da República.
A vitória de Costa e Silva, candidato da facção
militar conhecida como "linha dura", desencadeou um processo de
endurecimento político do regime. O novo presidente assume o poder em março de
1967 constituindo um ministério quase que absolutamente militar, do qual
participaram quatro representantes da "linha dura", entre eles o
general Garrastazu Médici, chefe do Serviço Nacional de Informações, que viria
a ocupar a presidência da República entre 1969 e 1974.
A orientação tomada pelo novo governo na economia e
na área de educação gerou uma crescente insatisfação em amplos setores da
sociedade, particularmente no movimento estudantil, que chega ao ápice, em
março de 1968, com a morte de um estudante no Rio de Janeiro. O episódio provocou
uma série de manifestações nas principais cidades do país, entre abril e junho,
culminando com a famosa "Passeata dos Cem Mil", nas ruas do centro do
Rio.
O clima de radicalização política, agravado pelo
discurso do deputado Márcio
Moreira Alves, denunciando as arbitrariedades do regime, em setembro
de 1968, levou o governo a encaminhar o pedido de cassação de seus direitos
políticos ao Supremo Tribunal Federal. Em face da recusa da Câmara, em 12 de
dezembro, em conceder a licença necessária para processar o deputado, o governo
baixou, no dia seguinte, o Ato Institucional n° 5. Entre outras medidas, o AI-5
autorizava o presidente da República, independente de qualquer apreciação
judicial, a intervir nos estados e municípios sem as limitações previstas na
Constituição, a cassar mandatos eletivos e a suspender por dez anos os direitos
políticos de qualquer cidadão, e a suspender a garantia de habeas-corpus..
Concomitantemente, foi editado o Ato Complementar nº 38, decretando o recesso
do Congresso Nacional por tempo indeterminado.
Exílio no Uruguai: Exílio no Uruguai: doença e morte de João
Goulart
Exílio no Uruguai: doença e morte de João Goulart
Após
rápida passagem por Porto Alegre, onde encontrou seu cunhado Leonel
Brizola, o ex-governador do Rio Grande do Sul e então deputado
federal pelo PTB da Guanabara, João Goulart
decidiu partir para o exílio, chegando a Montevidéu no dia 4 de abril de 1964.
No Uruguai, recebeu diversas manifestações de solidariedade do Brasil e do
exterior, principalmente vindas de países da América Latina, entre os quais
Chile, Argentina e Uruguai.
Brasil 1964: Revolução ou contra-revolução?
Entre agosto de 1961 e março de 1964, duas
concepções antagônicas sobre o destino do Brasil quase resvalaram, no final,
para uma guerra civil. A que estava no poder na ocasião, representada pelo
Presidente João Goulart, dizia defender a nação dos tentáculos econômicos do
capitalismo internacional, particularmente dos monopólios sediados em
Washington, aliado às forças da rapinagem nacional, predadora do patrimônio do povo.
A que se encontrava na oposição, ao contrário, dizia que o perigo real era
outro. Urgia, sim, salvar o país das garras do comunismo apátrida, materialista
e ateu, evitando que fosse satelitizado por Moscou. Havia de impedir-se por
todos os meios, que ele virasse uma "outra Cuba". Nas etapas finais,
como que se encenassem um Auto da
Guerra Fria, os dois Brasis colocaram sua gente na rua. Marchas, comícios e
passeatas se sucediam, enquanto greves e motins eclodiam por todos os lados. A
tensão aumentava dia a dia e um clima de confronto armado pairava pesadamente
no ar, até que as forças armadas, agindo a partir de 31 de março de 1964,
inclinaram-se definitivamente por um dos lados. E não foi a ala doExército
Popular e Nacionalista idealizado pelos esquerdistas quem se impôs.
Durante
seu período de exílio, o ex-presidente se correspondeu com vários políticos,
mantendo-se informado sobre a conjuntura política do país e sobre as medidas de
exceção tomadas pelos militares logo após o golpe. Parte da correspondência com
um desses políticos, Doutel de Andrade, refere-se ao Inquérito Policial Militar
(IPM) a que Goulart foi submetido e que resultou em seu indiciamento como
principal responsável pelos crimes arrolados no processo, em 1969. A
sindicância desenvolvida pelo regime militar, iniciada ainda em 1964, visava a
averiguar possíveis irregularidades em seu patrimônio material. O processo, com
19 volumes de documentos, concluiu que o ex-presidente havia cometido crimes
contra o Estado e a ordem política e social, tais como "corrupção administrativa;
aplicação indevida do dinheiro público; concessão de vantagens, favores e
privilégios a apadrinhados e a organizações de classe que (...) conturbavam a
vida nacional (...); diluição do princípio de autoridade e solapamento das
instituições" (JG e 1969.06.02).
Em
uma das cartas enviadas a Doutel, em 4 de maio de 1964, logo nos primeiros
tempos do exílio, Goulart revela que "com profunda mágoa, tomo
conhecimento da opressão, injustiças e violências praticadas contra o povo e
contra as pessoas que cometeram o único crime de serem meus amigos ou de
apoiarem minha orientação, que entendiam certa para os destinos do país".
Mais adiante, nessa mesma correspondência, referindo-se a uma matéria publicada
por um jornal de Porto Alegre relativa ao seu patrimônio, afirma que se sentia
no dever de "enviar alguns rápidos esclarecimentos (...) que servem para
desmascarar a miséria moral do seu autor". Em seguida, fornece informações
detalhadas sobre a origem dos seus bens, segundo ele, todos adquiridos até
1961, ano em que assumiu a presidência da República. Afirma ainda que algumas
das propriedades em Mato Grosso, a ele atribuídas pelo jornal, nunca constaram
do seu patrimônio e conclui solicitando que todos os dados fornecidos fossem
publicados, se possível, como matéria paga (JG e 1964.04.04/2).
Nesses cinco anos de investigações e acusações, sem
poder usar o direito de defesa e sem que seus advogados tivessem acesso aos
autos, Goulart se deprime, adoece e envelhece precocemente, como demonstram
alguns dos documentos encontrados no seu arquivo pessoal, inclusive
fotografias. Em correspondência dirigida a um deputado estadual do Rio Grande
do Sul, em agosto de 1964, comenta seu estado de saúde, dizendo que já se
encontra em fase de recuperação e que já retomou a leitura dos "jornais da
terra" (JG e 1964.04.04/12). A referência feita diz respeito às
complicações cardíacas que surgiram nesse período e que o perseguiram até a sua
morte em 1976.
Nesses 12 anos, concedeu várias entrevistas a
jornalistas brasileiros e estrangeiros e recebeu relatórios semanais de
ex-colaboradores, como José Gomes
Talarico, com informações sobre a conjuntura política e a atuação
dos militares e dos políticos, inclusive da oposição. Entre 1966 e 1968, tomou
parte das articulações relativas à constituição da Frente Ampla, movimento que
visava à restauração democrática do país, por meios pacíficos, e do qual também
participaram Carlos
Lacerda e Juscelino
Kubitschek.
Jango passou a residir em Buenos Aires em 1973, a
convite do então presidente Juan Domingo
Perón. Faleceu na sua fazenda La Villa, no município argentino de
Mercedes, vítima de um ataque cardíaco, sem ter conseguido regressar ao Brasil.
Sua morte teve grande repercussão tanto no Uruguai como no Brasil, a despeito
da censura imposta ao noticiário relativo ao fato. Goulart foi sepultado em sua
cidade natal, São Borja. O cortejo foi acompanhado por cerca de 30 mil pessoas,
entre as quais políticos oposicionistas e antigos colaboradores de seu governo.
Regime militar no Brasil :
Regime ou Ditadura
militar no Brasil foi o regime autoritário que governou o país de 1º de
abril de 1964 até 15 de março de 1985. A implantação da ditadura começou com o Golpe de 1964,
quando as Forças Armadas do Brasil derrubaram o
governo do presidente constitucional João Goulart1
e terminou quando José Sarney assumiu o cargo de presidente.2
A revolta militar foi fomentada por Magalhães
Pinto, Adhemar de Barros e Carlos
Lacerda, governadores dos estados de Minas Gerais,
São Paulo
e Rio de
Janeiro, respectivamente, com apoio dos grandes veículos de
comunicação. O regime militar brasileiro inspirou o modelo de outros regimes
militares e ditaduras por toda a América
Latina, sistematizando a "Doutrina de Segurança Nacional",
que justificava ações militares como forma de proteger o "interesse da
segurança nacional" em tempos de crise.3
As Forças
Armadas brasileiras adquiriram grande poder político após a vitória na Guerra do Paraguai. A politização das
instituições militares ficou evidente com a Proclamação da República,
que derrubou o Império, ou com o tenentismo
(movimento tenentista) e a Revolução de 1930. As tensões políticas
voltaram à tona na década de 1950, quando importantes círculos militares se
aliaram a ativistas de direita em tentativas de impedir que
presidentes como Juscelino Kubitschek e João Goulart
tomassem posse, devido ao seu alinhamento com a ideologia comunista.4
Enquanto Kubitschek mostrou-se simpático às instituições capitalistas, Goulart
prometeu reformas de longo alcance, expropriação de interesses comerciais e a
continuação da independência da política externa iniciada por seu antecessor
Jânio Quadros com o Brasil tendo relações diplomáticas e comerciais com ambos
os blocos capitalista e comunista.5
Em 1961,
Goulart foi autorizado a assumir o cargo, sob um acordo que diminuiu seus
poderes como presidente com a instalação do parlamentarismo.
O país voltou ao sistema presidencialista um ano depois, e, como os
poderes de Goulart cresceram, tornou-se evidente que ele iria procurar
implementar políticas de esquerda, como a reforma
agrária e a nacionalização de empresas em vários setores econômicos,
independentemente do consentimento das instituições estabelecidas, como o Congresso.6
7
Na época, a sociedade brasileira tornou-se profundamente polarizada, devido ao
temor que Brasil se juntasse a Cuba como parte do bloco
comunista na América
Latina sob o comando de Goulart. Políticos influentes, como Carlos
Lacerda e até mesmo Kubitschek, magnatas da mídia (Roberto
Marinho, Octávio Frias de Oliveira, Júlio de Mesquita Filho), a Igreja
Católica, os latifundiários,
empresários e parte da classe média pediam uma
"contra-revolução" por parte das Forças Armadas para remover o
governo.
Em 31 de
março de 1964, as operações das tropas rebeldes foram iniciadas. Goulart fugiu
para o Uruguai
em 1 de abril. Apesar das promessas iniciais, a ditadura militar durou 21 anos.
Além disso, o novo governo pôs em prática vários Atos
Institucionais, culminando com o AI-5, de 1968, que vigorou
até 1978. A Constituição de 1946 foi substituída pela Constituição de 1967, e, ao mesmo tempo,
ocorreram a dissolução do Congresso Brasileiro, a supressão de
liberdades individuais e a criação de um código de processo penal
militar que permitiu que o Exército brasileiro e a polícia
militar do Brasil pudessem prender e encarcerar pessoas consideradas
suspeitas, além de impossibilitar qualquer revisão judicial.8
O novo regime adotou uma diretriz nacionalista, desenvolvimentista e de oposição ao
comunismo. A ditadura atingiu o auge de sua popularidade na década
de 1970, com o "milagre brasileiro", no mesmo momento
em que o regime censurava todos os meios de comunicação, torturava e exilava
dissidentes. Na década de 1980, assim como outros regimes militares
latino-americanos, a ditadura brasileira entrou em decadência e o governo não
conseguia mais estimular a economia e diminuir a inflação
crônica, o que deu impulso ao movimento pró-democracia. O governo aprovou uma Lei de Anistia para os crimes
políticos cometidos pelo e contra o regime, as restrições às
liberdades civis foram relaxadas e, então, eleições presidenciais
foram realizadas em 1984, com candidatos civis. Desde a aprovação da Constituição de 1988, o Brasil voltou à democracia,
os militares foram mantidos sob controle institucional civil e sem nenhum papel
político relevante.
O golpe de
estado de 1964, qualificado por seus apoiadores como uma revolução,
instituiu um regime militar que durou até 1985. Os militares
e os governadores que o apoiaram afirmavam que era necessário derrubar João
Goulart, que eclodiu cinco anos após o alinhamento cubano à União Soviética, sob
alegação de que havia no Brasil uma ameaça comunista. Alguns apoiadores ainda
dizem que o acontecido, no caso, teria sido uma contrarrevolução,9
o que é fortemente contestada pela historiografia marxista.10
Luís Mir,
porém, em seu livro "A Revolução Impossível", da Editora Best
Seller, mostra que Cuba já financiava e treinava guerrilheiros brasileiros
desde 1961,
durante o governo Jânio Quadros. O mesmo diz Denise Rollemberg em
seu livro "O apoio de Cuba à Luta Armada no Brasil", publicado
pela Editora Muad, em 2001.
Tendo havido
apoio cubano a movimentos guerrilheiros brasileiros antes de 1964 ou não, o
caminho do Golpe Militar, ditadura, suspensão de liberdade de imprensa, de
eleições e cassações e prisões por posicionamento político não era o único
seguido no mundo para combater movimentos armados de esquerda. Em países da
Europa Ocidental havia guerrilhas comunistas financiadas pelo bloco
soviético e nem por isso Itália, Inglaterra ou Alemanha
sofreram golpes militares ou regimes de exceção durante a Guerra Fria. Assim
sendo, muitos autores, mesmo não marxistas, dão conta da possível inclinação
conservadora ou alinhamento aos discursos lacerdistas (udenistas) das forças
golpistas lideradas por Castelo Branco e com apoio militar e logístico
dos EUA.
Outros falam na vontade de extirpar à força os herdeiros do trabalhismo
populista varguista, como Jango e o próprio PTB.
Alguns
autores afirmam que a ditadura, não foi exclusivamente militar, sendo, em realidade,
civil-militar.11
. Pelo menos no início, houve apoio ao golpe de alguns segmentos minoritários
da sociedade:
a elite que dominava o Brasil havia séculos, uma grande parte da classe média (que na
época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador
e anticomunista da Igreja Católica, na época majoritários dentro da Igreja,
como o que promoveu a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, em 19 de abril de 196412
. Já o restante da população, suas camadas mais pobres (em sua maioria
analfabeta funcional) manteve-se inerte e distanciada da política nacional, uns
por comodismo, outros por ignorância.[carece de fontes]
O apoio clerical, no entanto, não era completo. A partir de outubro de 1964,
especialmente quando ativistas católicos de esquerda foram presos, certos
setores da chamada "ala progressista da Igreja Católica" da Teologia da Libertação, passaram a
denunciar a violência do governo militar.13
Vivia-se,
naquela época, a Guerra Fria quando os Estados
Unidos procuravam justificar sua política externa intervencionista
com sua suposta missão de liderar o "mundo livre" e frear a expansão
do comunismo. Assim sendo, a violenta luta internacional entre Estados Unidos e
União Soviética, capitalistas e comunistas
encontrou eco nos discursos da política brasileira. Os Estados Unidos apoiaram
os setores que organizavam um golpe de estado contra o presidente João Goulart,
que fora democraticamente eleito como vice-presidente do Jânio Quadros.
Goulart
procurava impulsionar o nacionalismo trabalhista
através das reformas de base14
. Os setores mais conservadores, contudo, se opunham a elas. Um evento que
aumentou a insatisfação entre setores conservadores militares ocorreu quando
Jango decidiu apoiar os militares revoltosos de baixa patente da Revolta dos
Marinheiros, os quais pleiteavam aumentos, fim de punições humilhantes e
direito a voto. Oficiais de patentes mais altas das Forças Armadas aumentaram
sua oposição a Jango, pelo que chamaram de quebra de hierarquia.
O governo
dos Estados Unidos não aprovava as nacionalizações de empresas americanas
realizadas pelo cunhado do Presidente João Goulart e governador do Rio Grande
do Sul Leonel Brizola nem os rumos que a política
externa brasileira tomava, de suspensão de pagamento da dívida externa (muitos
credores Americanos) de não-alinhamento e contatos com ambos os polos de poder
(capitalista e comunista). No governo Jânio Quadros,
Jango, então vice-presidente, havia visitado, a mando do presidente, a China comunista. Jânio
Quadros, mesmo que sem nenhuma ligação com setores de esquerda, condecorara o
revolucionário e então funcionário do governo cubano, Ernesto Che Guevara. Isso tudo motivou os
americanos a fornecerem aos militares brasileiros apoio ao golpe. De lá veio
ainda o aparato ideológico do anticomunismo,
que já era pregado pela Escola Superior de Guerra das Forças Armadas do Brasil, através da
doutrina de "Segurança Nacional".
Apesar de
Jango ser latifundiário, filho de empresários e milionário, de inclinação
trabalhista e não comunista, e de suas reformas serem ideologicamente
identificadas com a centro-esquerda, existia a vontade econômica e política por
parte dos Estados Unidos de controlar os países de economia menos desenvolvida,
impedindo-os de se ligarem ao bloco comunista, para assim vencerem a disputa
mundial de poder com a URSS
e o bloco comunista, negando à estes quaisquer novos parceiros comerciais e
diplomáticos.
Decretos polêmicos de João Goulart em março de 1964
No dia 13 de
março de 1964, João Goulart assina em praça pública, no Rio de
Janeiro, três decretos, um de encampação das refinarias de petróleo privadas,
outro de reforma agrária à beira de rodovias, ferrovias, rios navegáveis e
açudes e um decreto tabelando aluguéis. Esses decretos de 13 de março foram
usados como pretexto pelos conservadores para deporem João Goulart:
- Decreto Nº 53.700: Declara
de interesse social para fins de desapropriação as áreas rurais que
ladeiam os eixos rodoviários federais, os leitos das ferrovias nacionais,
e as terras beneficiadas ou recuperadas por investimentos exclusivos da
União em obras de irrigação, drenagem e açudagem, atualmente inexploradas
ou exploradas contrariamente à função social da propriedade, e dá outras
providências.15
- Decreto Nº 53.701: Declara
de utilidade pública, para fins de desapropriação em favor da Petróleo
Brasileiro S A - PETROBRÁS, em caráter de urgência, as
ações da companhias permissionárias do refino de petróleo.15
- Decreto Nº 53.702: Tabela
os aluguéis de imóveis no território nacional, e dá outras providências.16
Salvaguardas e a doutrina da segurança nacional
O golpe de
Estado marcou a influência política do Exército Brasileiro e sua determinação em tomar
o poder do país ao abrigo de uma doutrina de segurança nacional
formado no âmbito da política do comércio exterior americano e de outros países
influentes como a França. O intervencionismo militar no Brasil remonta ao Império (1822-1889), mas, segundo estudiosos é
a primeira vez no Brasil, mas também na América
Latina que o militar está adquirindo poder afirmando abertamente a
doutrina da segurança nacional.17
18
Entre as
figuras históricas civis afinadas com o movimento militar, estão os
governadores Magalhães Pinto (Minas Gerais),
Adhemar de Barros (São Paulo)
e Carlos
Lacerda (Guanabara, atual Estado do Rio de Janeiro).
Segundo o
tenente-coronel de Infantaria e Estado-Maior do Exército Brasileiro Manuel
Soriano Neto, em palestra comemorativa proferida na AMAN em 12 de setembro de
1985, em homenagem ao centenário do marechal José Pessoa:
|
Com as
desavenças que grassavam na corrente outubrista, o tenentismo
vem a se desintegrar. Tal fato se dá após a Revolução de 1932, mormente durante o ano de
1933, quando se formava a Assembleia Nacional Constituinte.
Parcelas das Forças Armadas se desgarraram para a esquerda
e para a direita,
incorporando-se à Aliança Nacional Libertadora
e à Ação Integralista Brasileira,
que apregoavam ideologias importadas, não condizentes com a idiossincrasia de
nosso povo.
|
|
Portanto,
dentro das forças armadas brasileiras, existia uma grave cisão interna de ordem
ideológica e, ainda havia outra divisão entre os moderados e a linha dura.
Os grupos
concorrentes entre si defendiam pontos de vistas diferentes: um grupo defendia
medidas rápidas diretas e concretas contra os chamados subversivos, ou inimigos
internos, estes militares apoiavam sua permanência no poder pelo maior
tempo possível; ao contrário do grupo anterior, o segundo era formado por
militares que tinham por doutrina a tradição de intervenções moderadoras.
Estes procuravam permanecer no poder somente o tempo necessário até se formar
um governo aceito pelo grupo a exemplo de 1930, 1945 e 1954. Quando passado o
período de maior risco institucional houve o rápido retorno do poder
para os civis.
Para os dois
grupos era necessário salvaguardar o Brasil contra o poder do comunismo
internacional (além do anti-getulismo, leia-se populismo).
Segundo a
doutrina dos militares, o inimigo devia ser extirpado a todo custo e os
governos populistas seriam uma porta de entrada para a desordem, subversão e
propiciariam a entrada de ideologias nocivas à nação.
As facções
contrárias internamente nas forças armadas acabaram se unindo apesar da não
concordância metodológica. Desta forma, os militares mais radicais se aglutinaram
ao general Costa e Silva, e os mais estratégicos ao
marechal Humberto de Alencar Castelo Branco.
Muitos
militares da época afirmam que se a orientação filosófico-ideológica das forças
armadas fosse para a esquerda, estas defenderiam da mesma forma a linha de
pensamento, somente o inimigo que mudaria de lado, o que importava era a
segurança da Nação.
Atualmente é
sabido que as contradições de pensamentos e ações dentro das Forças
Armadas (a dita cisão interna) causou a expulsão e a prisão de
muitos militares no momento seguinte ao golpe. Exemplo disso foi quando o
general Kruel garantiu que o Exército Brasileiro jamais iria contra a Constituição Brasileira de 1946,
e que defenderia os poderes constituídos, e quando o general Olympio Mourão Filho declarou que João Goulart,
devido ao abuso do poder e de acordo com a Lei, fora deposto.
Regime ditatorial: Golpe militar e influência estrangeira
Golpe Militar de 1964: Ações de
derrubada de governos patrocinadas pela CIA e Atividades da CIA no Brasil
Tropas
militares, na madrugada do dia 31 de março de 1964, sob o comando do general Olympio Mourão Filho marcharam de Juiz de Fora
para o Rio de Janeiro com o objetivo de depor o
governo constitucional de João Goulart.
O presidente encontrava-se no Rio de Janeiro quando recebeu um manifesto
exigindo sua renúncia. O chefe da Casa Militar, general Assis Brasil,
não conseguiu colocar em prática um plano que teria a função de impedir um
possível golpe. Os partidos de sustentação do governo ficaram aguardando a
evolução dos acontecimentos. O presidente, de Brasília,
seguiu para Porto Alegre e se refugiou numa estância de sua
propriedade, e depois rumou para o Uruguai,
o que levou o presidente do Senado Federal a declarar vagas a presidência e a
vice-presidência da república e empossar o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli,
na presidência da república.
No dia 2 de
abril ocorre a Marcha da Vitória, na cidade do Rio de Janeiro,
garantindo apoio popular à deposição do presidente João Goulart.19
Blindados,
viaturas e carros de combate ocuparam as ruas das principais cidades
brasileiras. Sedes de partidos políticos, associações, sindicatos
e movimentos que apoiavam reformas do governo foram destruídas e tomadas por
soldados fortemente armados. À época, estudantes, artistas, intelectuais,
operários se organizavam para defender as reformas de base. A sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi
incendiada20
. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, "(…) o
golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira.
Grande parte do empresariado21
, da imprensa,
dos proprietários rurais, vários governadores de estados importantes (como Carlos
Lacerda, da Guanabara, Magalhães
Pinto, de Minas Gerais, e Adhemar de
Barros, de São Paulo), além de setores da classe média,
pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de
esquerdização do governo e de controlar a crise econômica."
Os Estados
Unidos, que já vinham patrocinando organizações e movimentos contrários ao
presidente e à esquerda no Brasil durante o governo de João Goulart,
participaram da tomada de poder, principalmente através de seu embaixador no
Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam
decidido dar apoio armado e logístico aos militares golpistas, caso estes
enfrentassem uma resistência armada por parte de forças leais a Jango:
em Washington,
o vice-diretor de operações navais, John Chew, ordenou o deslocamento para
costa brasileira (entre Santos e Rio de Janeiro) de uma força-tarefa da US Navy
(incluindo o porta-aviões Forrestal, seis contratorpedeiros,
um porta-helicóptero e quatro petroleiros),
operação que ficou conhecida como "Brother Sam".22
Após a
deposição de João Goulart, vieram os Atos Institucionais (AI), mecanismos jurídicos
autoritários criados para dar legitimidade a ações políticas contrárias à Constituição Brasileira de 1946
que consolidaram o novo regime militar implantado.23
O presidente
João Goulart permaneceu em território brasileiro até o dia 2 de abril. Nesse
dia, em um golpe parlamentar,nota 1
o Congresso Nacional declarou que a
Presidência da República estava vaga e deu posse ao Presidente da Câmara dos Deputados,
Ranieri
Mazzili, que permaneceu no cargo até 15 de abril de 1964, embora
representasse um papel meramente decorativo: o governo era exercido pelos
ministros militares. Em uma inversão constitucional - os militares passando de
defensores da Constituição a subversivos dela e causadores de uma crise
política - acabou predominando a força das armas e o Presidente da República
foi deposto. Goulart partiu para o exílio no Uruguai, morrendo na Argentina,
em 1976.24
Atos Institucionais
No dia 7 de
abril, os ministros militares ignoraram o "Ato Constitucional" dos
líderes parlamentares, que limitavam o expurgo no serviço público em todos os
níveis, e deram início à série de "Atos Institucionais". Foram
decretados dezessete atos institucionais,25
e cento e quatro complementares a eles, durante o governo militar, que pela
própria redação eram mandados cumprir, diminuindo assim algumas liberdades
do cidadão.[carece de fontes]
Em seus
primeiros quatro anos, o governo militar foi consolidando o regime. O período
compreendido entre 1968
e 1975
foi determinante para a nomenclatura histórica conhecida como "anos de
chumbo". Os Atos Institucionais restringiram os direitos de cerca de
dezoito milhões de eleitores brasileiros,[carece de fontes]
que cancelavam a validade de alguns pontos da Constituição Brasileira, criando um Estado de exceção e suspendendo a democracia
plena. Foram cassados os direitos políticos de praticamente todos os políticos
e militares tidos como simpatizantes do comunismo, ou que se suspeitava receber
apoio dos comunistas.
Ao longo dos
governos dos generais Humberto de Alencar Castelo Branco
(1964-1967) e Artur da Costa e Silva (1967-1969), os
Atos Institucionais foram promulgados e emendaram a Constituição
durante todo o período da ditadura. Foi o fim do Estado de
direito e das instituições democráticas. A partir de 1º de abril, na
prática uma junta militar governava o Brasil, porém
formalmente foi declarado vago o cargo de presidente da república, pelo senador
Auro de Moura Andrade, presidente do
Senado Federal, que empossou o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri
Mazzilli na presidência, e com a eleição de Humberto de Alencar
Castelo Branco presidente da república pelo Congresso Nacional em 11 de abril,
este toma posse na presidência em 15 de abril de 1964 para completar o mandato
de Jânio Quadros, que iria de 31 de janeiro de 1961 até 31 de janeiro de 1966.
A 9 de
abril, foi baixado o "Ato Institucional", redigido por Francisco
Campos, e que era para ser o único ato institucionalizador da
"revolução de 1964". Porém, depois da edição do AI-2, o "Ato
Adicional" inicial foi numerado como AI-1. O "Ato
Institucional" transferia poderes excepcionais para o executivo, ao mesmo
tempo em que subtraia a autonomia do legislativo. O AI-1 marcava eleições
presidenciais para outubro de 1965 e concedia à Junta, entre outros tantos, o
poder de cassar mandatos parlamentares. Dois dias depois, o marechal Castelo
Branco - chefe do Estado-Maior e coordenador do golpe contra
Jango - foi eleito presidente pelo Congresso.
Houve uma
razão lógica para a decretação do Ato, que foi uma medida mais estratégica do
que o diálogo. Os políticos, em sua maioria, estavam reticentes quanto aos
caminhos que seriam tomados pelo governo de então. Naquela altura, a conversa,
o convencimento pela razão e pelos argumentos seriam inócuos e demandariam
muito tempo, o que daria espaço e fôlego aos depostos ou à oposição de se
reorganizar. Os militares acreditavam na necessidade urgente de legitimar o
golpe "por si mesmo".
Novas
medidas vieram, com o enrijecimento ainda maior da ditadura: revogação da
nacionalização das refinarias de petróleo; revogação dos decretos de
desapropriação de terras; cassação e suspensão de direitos políticos; demissão
de funcionários públicos; instauração de inquéritos; e o rompimento de relações
diplomáticas com Cuba.
O governo da
ditadura difundiu a ideia de que a intervenção militar impediu a implantação de
um regime comunista no Brasil e utilizou-se desse argumento para justificar as
suas ações arbitrárias e violentas, sendo que o jornalista Lúis Mir, em seu
livro "A Revolução Impossível",
detalha o apoio de Cuba e da China comunista à revolução armada no Brasil pelos
vários grupos esquerdistas existentes. Os comunistas do antigo PCB, pró-soviético, optou por ingressarem
seus membros como Alberto Goldman e Roberto
Freire no MDB.
Assim, os Atos
Institucionais e seus complementares se sucederam até o número
dezessete. Em 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e
Silva decretou, mandou publicar e cumprir o Ato Institucional Número 5,26
27
AI-5, cancelando todos os dispositivos da Constituição de 1967 que porventura ainda
pudessem ser utilizados pela oposição.
A cassação
de direitos políticos, agora descentralizada, poderia ser decretada com extrema
rapidez e sem burocracia; o direito de defesa ampla ao acusado foi eliminado;
suspeitos poderiam ter sua prisão decretada imediatamente, sem necessidade de
ordem judicial; os direitos políticos do cidadão comum foram cancelados e os
direitos individuais foram eliminados pela instituição do crime de desacato à
autoridade.
Os militares
assumiram definitivamente que não estavam dispostos a ser um poder moderador e
sim uma ditadura,
colocaram a engrenagem para rodar as teses da Escola Superior de Guerra (ESG), o
desenvolvimentismo imposto à sociedade.
Expurgos
Jânio Quadros,
ex-presidente, um dos expurgados da vida política pelo golpe militar de 1964.
No dia 10 de
abril de 1964, a junta militar divulgou o Ato do Comando Revolucionário Nº 1,
com a lista de cem nomes de suspeitos de serem comunistas, cujos direitos
políticos foram suspensos, entre eles o ex-presidente João Goulart,
o ex-presidente Jânio Quadros, o secretário-geral do proscrito Partido Comunista Brasileiro (PCB) Luís Carlos Prestes, os governadores depostos Miguel Arraes,
de Pernambuco,
o deputado federal e ex-governador do Rio Grande do
Sul Leonel Brizola, o deputado federal por Roraima
e ex-governador do Amazonas Gilberto Mestrinho, o desembargador Osni Duarte Pereira, o
economista Celso Furtado, o embaixador Josué de
Castro, o ministro deposto da Justiça, Abelardo Jurema de Araújo,
os ex-ministros Almino Afonso, do
Trabalho, e Paulo de Tarso, da Educação, o presidente
deposto da Superintendência da Política Agrária (Supra) João Pinheiro Neto, o
reitor deposto da Universidade de Brasília, Darcy Ribeiro,
o assessor de imprensa de Goulart Raul Riff,
o jornalista Samuel Wainer e o presidente deposto da Petrobrás,
marechal Osvino Ferreira Alves. A lista ainda
incluía 29 líderes sindicais, como o presidente do então extinto Comando Geral dos Trabalhadores
(CGT), Clodesmidt Riani, além de Hércules Correia, Dante Pellacani
vice-presidente da CNTI e do CGT, Osvaldo Pacheco
secretário-geral do CGT e Roberto Morena.
No mesmo
dia, foi publicado Ato do Comando Revolucionário Nº 2, AI-2, cassando o mandato
de 40 membros do Congresso Nacional, que já haviam sido incluídos no ato de
suspensão dos direitos políticos.
Cento e vinte e dois oficiais de alta
patente das forças armadas foram também expulsos, além de sargentos,
cabos, etc. Em 14 de Abril, o Ato Complementar Número Nove
transforma a oposição em inimiga da Nação. Ato
Complementar Número Nove. Quem não era a favor, era contra, e quem
era contra, era inimigo do Estado, pois assim o governo se expressara no Ato
Institucional, redigido por Francisco
Campos depois chamado de AI-1:
"É
indispensável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba de abrir
ao Brasil uma nova perspectiva sobre o seu futuro. O que houve e continuará a
haver neste momento, não só no espírito e no comportamento das classes armadas,
como na opinião pública nacional, é uma autêntica revolução. A revolução se
distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se traduz, não o
interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação.
A revolução
vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela
eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais
radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder
Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a
capacidade de constituir o novo governo. Nela se contém a força normativa,
inerente ao Poder Constituinte. Ela edita normas jurídicas sem que nisto seja
limitada pela normatividade anterior à sua vitória. Os Chefes da revolução
vitoriosa, graças à ação das Forças Armadas e ao apoio inequívoco da Nação,
representam o Povo e em seu nome exercem o Poder Constituinte, de que o Povo é
o único titular."
Slogan ufanista
"Brasil, ame-o ou deixe-o", muito usado durante os Anos de
Chumbo no Brasil.
A repressão
se instalou imediatamente após o golpe de Estado antes do começo da luta armada28
. As associações civis contrárias ao regime eram consideradas inimigas do
Estado, portanto passíveis de serem enquadradas.
Muitas
instituições foram reprimidas e fechadas, seus dirigentes presos e enquadrados,
suas famílias vigiadas. Na mesma época se formou dentro do governo um grupo que
depois seria chamado de comunidade de informações. As greves de
trabalhadores e estudantes foram proibidas e passaram a ser consideradas crime;
os sindicatos sofreram intervenção federal, os líderes sindicais que se
mostravam contrários eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional como subversivos.
Muitos cidadãos que se manifestaram contrários ao novo regime foram indiciados
em Inquéritos Policiais Militares (IPM).
Aqueles cujo inquérito concluísse culpados, eram presos. Políticos de oposição
tiveram seus mandatos cassados, suas famílias postas sob vigilância. Muitos
foram processados e expulsos do Brasil e tiveram seus bens indisponíveis.
No dia 25 de
Julho de 1966 explode uma bomba no aeroporto Internacional dos
Guararapes, em Recife, Pernambuco. Várias pessoas ficam feridas, três morreram. O
fato foi interpretado como atentado contra Costa e Silva.29
De acordo
com uma organização de ex-militares e simpatizantes do regime militar, no total
118 brasileiros, civis e militares foram mortos por organizações de extrema
esquerda, durante o regime militar. Havia dezenas destas organizações, cada uma
seguindo uma diferente orientação do movimento comunista 30
Por volta de
1967, vários grupos esquerdistas, escolhem a luta armada
como forma mais eficaz de reagir aos setores civis e militares que haviam
derrubado o presidente João Goulart e que implantaram uma ditadura
no Brasil 31
32
. Carlos Marighella rompe com a estratégia do PCB
de se abrigar no MDB, e, em 17 de agosto de 1967, Marighella enviou uma carta
ao Comitê Central do PCB, rompendo definitivamente com o partido.
Em seguida,
deu total apoio e solidariedade às resoluções adotadas pela OLAS. Nesse
documento ele escrevia:
|
No
Brasil há forças revolucionárias convencidas de que o dever de todo o
revolucionário é fazer a revolução. São estas forças que se preparam em meu
país e que jamais me condenariam como faz o Comitê Central só porque
empreendi uma viagem a Cuba e me solidarizei com a OLAS e com a revolução
cubana. A experiência da revolução cubana ensinou, comprovando o acerto da
teoria marxista-leninista, que a única maneira de resolver os problemas do
povo é a conquista do poder pela violência das massas, a destruição do
aparelho burocrático e militar do Estado a serviço das classes dominantes e
do imperialismo e a sua substituição pelo povo armado!
|
— Carlos
Marighela
|
A população
era massificada pela propaganda institucional e pela propaganda
nos meios de comunicação, que ou eram amordaçados pela censura
ou patrocinavam a ditadura com programas de televisão muito bem elaborados
como: Amaral Neto, o Repórter; Flávio Cavalcanti, entre outros,
com audiência de até dez milhões de telespectadores em horário nobre, número
muito expressivo para a época. Havia muitos programas locais com farta publicidade
também de cunho institucional, as maravilhas e a grandeza do país eram
enaltecidas, slogans eram distribuídos fartamente em todos os meios de comunicação. Nesta época, foram
liberados milhões de dólares a juros baixos para a montagem de centenas de
canais de televisão e ampliação das grandes redes de alcance nacional. O
ministério das Comunicações e a Delegacia Nacional de Telecomunicações, Dentel,
liberaram milhares de canais de rádio e de televisão, a fim de possibilitar a
formação de uma rede nacional de telecomunicações de alcance continental.
A censura
aos meios de comunicação era executada pelo CONTEL,33
comandado pelo SNI
e pelo DOPS,
proibiu toda e qualquer exibição em território nacional de filmes, reportagens,
fotos, transmissão de rádio e televisão, que mostrassem tumultos em que se
envolvessem estudantes. As apresentações na televisão exibiam um certificado
contendo os dados da empresa de comunicações responsável rubricado pelos
censores de plantão.
Direitos humanos
A ditadura
militar foi instituída pela violação dos direitos políticos de todos os
cidadãos brasileiros, pois depôs um governo democraticamente eleito, e pela
supressão de direitos e garantias individuais pelos sucessivos Atos Institucionais (AI) e leis decretados
pelos chefes do regime. Entre 1968 e 1978, sob vigência do AI-5 e da Lei de
Segurança Nacional de 1969, ocorreram os chamados Anos de Chumbo,
caracterizados por um estado de exceção total e permanente, controle sobre a mídia
e a educação
e sistemática censura,
prisão,
tortura,
assassinato
e desaparecimento forçado de opositores do
regime. A prisão arbitrária por tempo indeterminado (suspensão do habeas
corpus) e a censura prévia foram especialmente importantes para a prática e
acobertamento da tortura. A legalidade democrática, porém, só foi estabelecida
a partir de 1988, com a Assembléia Nacional Constituinte
e as eleições diretas para o poder
legislativo e o poder
executivo em nível municipal, estadual e federal.
A partir de
1975, o regime civil-militar brasileiro aliou-se secretamente aos regimes
semelhantes no Ditadura de
Pinochet, Regime militar paraguaio, Regime
militar uruguaio, e, a partir de 1976, Regime
militar argentino, para a implementação da Operação Condor. Consistia em um plano secreto
de extermínio da oposição política aos regimes de extrema-direita do Cone Sul
e na Europa,34
cujos resultados foram, no mínimo, 85 mil mortos e desaparecidos e 400 mil
torturados além de mais de mil estrangeiros expulsos do Brasil.35
O regime militar brasileiro foi considerado o líder da Operação Condor.36
A Comissão
de Anistia, desde 2001, recebeu 70 mil requerimentos de compensação por
perseguições sofridas durante o governo militar.37
Estima-se que, no mínimo, 50 mil pessoas foram presas, no mínimo 20 mil torturadas,
e outros milhares foram exilados e cassados.38
Expulsões das universidades e do serviço público eram outros instrumentos de
repressão política.
Em 9 de
junho de 2013, o presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e
da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Wadih Damous,39
pediu à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que demita o seu diretor
geral adjunto, Ronaldo Martins Belham, por este ser filho do general da reserva
remunerada José Antonio Nogueira Belham, chefe do DOI-Codi do Rio de Janeiro na
época em que ex-deputado federal Rubens Paiva foi cruelmente morto, em 1971,
após ter sido preso no Rio de Janeiro. A Presidenta Dilma Rousseff, apesar de
ser vítima das torturas no regime militar (1964-1984), mantém simpatizantes do
período autoritário em cargos comissionados relevantes da Administração
Federal, a exemplo do referido diretor da Abin.
Segundo a
Comissão de Mortos e Desaparecidos e a Comissão de Anista, 457 pessoas foram
assassinadas ou desaparecidas pela repressão política governamental, e mais 370
serão incluídos na listagem oficial, a partir de um estudo que identificou mais
de 1196 vítimas da repressão política no campo, até então excluídas da lista.40
41
42
As 457 vítimas identificadas pela Comissão de Mortos e Desaparecidos e pela
Comissão de Anistia e as outras 858 vítimas identificadas pelo Retrato da
repressão política no campo não incluem os genocídios indígenas, embora o
governo tenha usado indígenas na repressão.43
44
45
A política econômica e social do regime
civil-militar também é criticada pelo crescimento da desigualdade
sócioeconômica e da extrema-pobreza entre 1964-85. A política salarial do governo prejudicou
a alimentação da população. Estudos mostram que, entre 1963 e 1975, a
desnutrição passou de 1/3 para 2/3 da população brasileira, e a
"desnutrição absoluta" chegou a atingir 13 milhões, aproximadamente
1/7 da população. Em resposta a esse problema, o governo baniu a palavra
"fome" da mídia.46
Lei Falcão: Lei Falcão
Em 1974,
Ernesto Geisel afirma em discurso sua intenção de modificar a política
ditatorial, ao passo que estabelece os limites de uma nova estrutura política
no país. Alessandra Carvalho cita (do próprio discurso de Geisel) esses limites
como um “gradual mais seguro aperfeiçoamento democrático”.47
Geisel
acreditava que seu objetivo seria reafirmado pela população nas eleições
legislativas, que apoiariam a manutenção do regime. Para isso a disputa entre
ARENA e MDB deveria existir de maneira mais eficaz, por este motivo, foi
permitida a propaganda eleitoral em rede nacional e o estimulo a participação
popular. No entanto, a oposição aumenta sua participação política na Câmara de
16% para 44% sua bancada.48
Vendo o desenvolvimento do partido, o MDB utiliza a estratégia militar para
crescer e se fortalecer.
Esse
resultado refletia o apoio da população aos programas que defendiam respeito
aos direitos humanos; revogação do AI-5 e do decreto-lei 477; anistia;
fim das prisões, das torturas, dos desaparecimentos e dos assassinatos de
presos políticos.
Para evitar
que este fato acontecesse de novo, Ernesto Geisel promulga a “Lei Falcão” em
1976, derivada do sobrenome do Ministro da Justiça, Armando
Falcão, que tinha o objetivo principal de impedir a politização das
eleições, impondo limitações a propaganda eleitoral nos meios de comunicação.
Os candidatos não podiam defender suas plataformas de campanha, ou criticar o
governo. Na televisão, era permitido aparecer a foto do candidato na tela e a
leitura, por um locutor, de um pequeno currículo sobre a sua vida.
Além dessa
medida, Geisel cassa o mandato de diversos parlamentares por não cumprirem com
o “gradualismo” demandado pelos militares.49
Pacote de Abril: Pacote de abril
Apesar da
distensão, o governo continuava perseguindo a oposição. Em outubro de 1975, o
jornalista Vladimir Herzog foi assassinado no II Exército,
em São Paulo. Três meses depois, também no II Exército, foi assassinado o
operário Manoel Fiel Filho. Geisel reagiu, demitindo o
comandante do II Exército, atual Comando Militar do Sudeste, o general de
exército Ednardo D'Ávila Mello.
As
manifestações colocavam-se abertamente contra a ditadura: jornais
independentes, estudantes, sindicalistas, intelectuais e profissionais
liberais, reunidos, questionavam os rumos da distensão imposta por Geisel.
Quanto mais a oposição crescia, mais o governo reagia. Em 1º de abril de 1977,
para assegurar a manutenção do regime e vitória da ARENA, decreta um recesso
temporário do Congresso e lança o "Pacote de
Abril".50
As novas
regras:
- Um terço dos senadores seriam eleitos
indiretamente.
- A Constituição poderia
ser alterada somente com a maioria absoluta, não mais com os dois terços
antes exigidos.
- Os governadores de estado
seriam eleitos indiretamente (1978).
- Limitou o acesso à radio
e à televisão.
- A bancada de deputados
federais passou a ser calculada pela totalização da população, não mais
pelo número de eleitores.
Como
resposta, instituições como a OAB e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa),
além de setores da Igreja Católica, atacam a atuação dos militares, denunciando
crimes aos direitos humanos.51
Censura à imprensa: Censura no Brasil e Publicidade do regime militar de 1964
Grande parte
da imprensa, os "Diários Associados" - revistas,
rádios, jornal e TV -, O Globo, Folha de São Paulo, Correio da Manhã, Jornal do
Brasil e O Estado de São Paulo festejaram a
deposição do governo de Goulart. Contrariando essa tendência, apenas o jornal Última Hora
combateu o golpe, o que levou o seu diretor Samuel Wainer
a exilar-se.
Em 1 de
abril de 1964, O Estado de S. Paulo trazia o seguinte texto: "Minas desta
vez está conosco (...) dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do
que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por
demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas
imposições." No Jornal do Brasil se lia: "Desde ontem se instalou no
País a verdadeira legalidade ... Legalidade que o caudilho não quis preservar,
violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares.
A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas".52
O Globo de 2
de abril de 1964 dizia: "Salvos da comunização que celeremente se
preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os
protegeram de seus inimigos". E O Estado de Minas trazia em 2 de abril:
"O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte,
pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a
concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade."52
O Globo de 4
de abril trazia: "Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos.
Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações
políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é
de essencial: a democracia, a lei e a ordem".52
Segundo a Fundação Getúlio Vargas, "(…) o
golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira.
Grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja
católica, vários governadores de estados importantes (como Carlos
Lacerda, da Guanabara, Magalhães
Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de
Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média
pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de
esquerdização do governo e de controlar a crise econômica."
O sentimento
de festa de então, que fez vistas grossas à deposição sem amparo legal de
Goulart, se torna em desilusão com a atuação do governo militar e passa a criticar
as ações arbitrárias da Junta Militar e, depois, de Castelo Branco. A Revista Civilização Brasileira
em seu primeiro número (março de 1965), no artigo "terrorismo
cultural", diz que "(…) não se limitará a um nacionalismo
sentimentalista e estreito, nem se deixará envolver pelo projeto geopolítico ou
o planejamento estratégico continental que o Departamento de Estado e o Pentágono
promovem e que alguns dos nossos políticos colocam em ação"..53
A ditadura
determinou censura aos órgãos de imprensa e sua Assessoria Especial de Relações
Públicas (AERP) funcionava como uma espécie de agência de propaganda. O material de propaganda
era reproduzido nos jornais, rádios, cinemas e principalmente na televisão. A
AERP produzia ainda músicas que enalteciam as realizações da ditadura: muitas
eram cantadas obrigatoriamente nas escolas.
Em 22 de
novembro de 1968, foi criado o Conselho Superior de Censura, baseado no modelo
norte-americano de 1939, Lei da Censura (5.536, 21
de novembro de 1968). O motivo oficialmente propalado era a infiltração de
agentes comunistas nos meios de comunicações, lançando notícias falsas de
tortura e desmandos do poder constituído.
No mesmo
dia, foi criado o Conselho Superior de Censura, cuja função era centralizar e
coordenar as ações dos escritórios de censura espalhados pelo país. Também
foram criados tribunais de censura, com a finalidade de julgar rapidamente
órgãos de comunicações que burlassem a ordem estabelecida, com seu fechamento e
lacramento imediato em caso de necessidade institucional.
A ditadura
não se restringia ao campo político, reuniões ou manifestações públicas.
Músicas, peças teatrais, filmes e livros eram censurados. Na imprensa, nenhuma
notícia que criticasse o governo ou revelasse suas práticas era veiculada.
Censurado diariamente, o Estado de São Paulo, depois, resolveu utilizar
os espaços com trechos de Os Lusíadas,
de Luís Vaz de Camões, clássico da literatura
portuguesa do século XVI.
No dia 18 de Julho
de 1968
integrantes do Comando de Caça aos Comunistas
(CCC), grupo de extrema direita, invadem o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, espancam o
elenco da peça Roda Viva,54
ferindo todos os integrantes, alguns com certa gravidade; a polícia, embora
chamada, nada fez além de um boletim de ocorrência. A ditadura acabou por
asfixiar a cultura nacional. Muitos artistas buscaram espaço para suas
produções. Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Geraldo Vandré, Chico Buarque,
entre tantos outros, deixaram o Brasil.
Gil e
Veloso, após protestarem publicamente contra a ditadura, foram presos no Rio de Janeiro no dia 22 de
Dezembro de 1968. Segundo os censores e os órgãos de informação
oficial, o motivo da prisão foi "tentativa da quebra do direito e da ordem
institucional", com mensagens "objetivas e subjetivas à população"
para subverter o Estado Democrático Brasileiro estabelecido pela revolução.
Em função da notoriedade dos artistas, foram aconselhados a se exilarem do
país. No jornal Estado de São Paulo, embaixo do título da
notícia, aparece uma receita de torta de abacaxi recheada com pepino.
No dia 16 de
janeiro de 1969, são cassados Mário Covas
e mais 42 deputados, são estourados diversos aparelhos
comunistas. Segundo informado pelas forças de repressão, devido à uma suposta
reação armada contra as forças de segurança, os guerrilheiros não sobrevivem.
Para ampliar
a repressão com mais eficiência, no dia 1 de julho
de 1969, o governador de São Paulo, Abreu Sodré,
criou a Oban,
(Operação Bandeirantes), para reprimir e
perseguir no estado todos aqueles que se opõem à ditadura.
No dia 25 de janeiro de 1969, Carlos
Lamarca, capitão do Exército Brasileiro, foge do quarto Regimento
de Infantaria,
levando consigo dez metralhadoras INA ponto quarenta e cinco, e sessenta e três
fuzis automáticos leves Fal.
A deserção de Lamarca, além do sequestro do Embaixador poucos meses antes,
levaram os militares às últimas consequências para acabar de uma vez por todas
com a resistência armada no Brasil. Os comunistas passaram a ser
perseguidos e mortos implacavelmente pelos esquadrões da morte em todo o país.
As
universidades brasileiras viviam sob verdadeira ocupação militar: professores
foram aposentados compulsoriamente, alunos expulsos, livros censurados. A
censura, executada pelo extinto Conselho Nacional de Telecomunicações - CONTEL,33
comandado pelo SNI e pelo DOPS, proibiu toda e qualquer
exibição em território nacional de filmes, reportagens, fotos, transmissão de
rádio e televisão, que mostrassem tumultos em que se envolvessem estudantes.
Nas prisões
do Exército, os detentos eram torturados: choques elétricos, afogamentos e
agressões de toda ordem se constituíam em práticas rotineiras. O jovem
estudante Stuart Angel foi preso, torturado e teve a boca
atada ao escapamento de um jipe militar que o arrastou pelo pátio do quartel
onde estava detido. Angel morreu na primeira volta.
Livrarias,
bibliotecas e casas de intelectuais foram "visitadas". Todos os
livros que falassem sobre Comunismo, Socialismo ou Reforma
Agrária eram apreendidos. Nessa época chegou-se ao cúmulo de se
cometer estapafúrdios, como apreender livros sobre qualquer assunto pelo
simples fato de se ter a capa vermelha ou nome de autores russos.
Paulo Evaristo Arns e Hélder Câmara, fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, que lutaram pelos direitos
humanos nos tempos do integralismo,
no governo de Getúlio Vargas, contestaram o regime militar.55
A CNBB
se manifestou contra o regime militar[carece de fontes].
A Rede Globo
apoiou a ditadura militar. Em 1984, Roberto Marinho, dono de O Globo, escreve
em seu jornal: "Participamos da Revolução de 1964, identificados com os
anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela
radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada.
Quando a nossa redação foi invadida por tropas antirrevolucionárias,
mantivemo-nos firmes em nossa posição. Prosseguimos apoiando o movimento
vitorioso desde os primeiros momentos de correção de rumos até o atual processo
de abertura, que se deverá consolidar com a posse do novo presidente."56
O livro Nova História Crítica, de Mario Schmidt,
que mostrou essa ligação da Rede Globo com a ditadura militar, foi duramente
criticado por Ali Kamel,
jornalista da Rede Globo, e o MEC rejeitou o livro.
Papel do Congresso
Sem
autonomia, o Congresso Nacional continuou aberto apenas
para demonstrar aos outros países que havia normalidade política e
administrativa e que, apesar do desmonte do Estado de Direito, a ditadura
estava protegendo o país dos seus inimigos: os comunistas.
Os textos
legais eram aprovados sem o voto dos congressistas. O governo impôs o decurso de prazo, manobra
utilizada para legalizar o ilegítimo e inviabilizar qualquer propositura de
emendas ao orçamento do governo e, ainda, a discussão e votação dos projetos
enviados pelo poder executivo.
O Congresso,
eventualmente, era palco de denúncias de alguns parlamentares da oposição que,
na maioria das vezes, não encontravam espaço na imprensa para fazê-las: os
anais do Congresso registravam os protestos e o assunto logo caía no
esquecimento.
Quando se
sentia ameaçado, o governo ditatorial cassava os deputados de postura mais
oposicionista. Em 1966, a ditadura militar cassou diversos deputados da
oposição e fechou o Congresso Nacional. Foram presos os integrantes do partido
oposicionista que protestaram em plenário contra o AI-3, sob suspeita de subversão
e sabotagem ao espírito da revolução, segundo a imprensa. Muitos políticos
acabaram desistindo da vida pública, tal a pressão sofrida e tal o clima de
terror institucionalizado, deixando desta forma terreno para o partido
situacionista agir livremente. Paralelamente, grandes empresas empreiteiras,
financiadoras do golpe de 1964, ganharam as concorrências para o início e
execução de grandes obras de engenharia. O Banco do
Brasil, recebendo dinheiro do BID, liberou empréstimos
para a compra de máquinas, equipamentos e implementos rodoviários para a
construção de obras de infraestrutura.
Castelo
Branco reabriu o Congresso impondo o projeto de uma nova Constituição, sem a
instalação de uma Assembleia Constituinte. Sem debates, sem
contraditórios, no dia 24 de janeiro de 1967, a Constituição de 1967 foi
aprovada.
Lei de Segurança Nacional
No dia 3 de
Março de 1967 é mandada cumprir a primeira Lei de Segurança Nacional do regime
militar.
O crime de
opinião, o crime político, o crime de subversão, o enquadramento de qualquer
cidadão à Lei de Segurança Nacional, sua expulsão do Brasil e a vigilância de
seus familiares, bem como a indisponibilidade dos seus bens, estavam agora
institucionalizados e eram legais.
Com a nova
constituição promulgada em 24 de Janeiro de 1967, Castello Branco faz a
ditadura militar ser legalizada e a implantação do estado de exceção passa a
ser constitucional.
Em 29 de
dezembro de 1978, é sancionada a nova lei de segurança nacional, que prevê
penas mais brandas, possibilitando a redução das penas dos condenados pelo
regime militar. Decreto possibilita o retorno de banidos pelo regime.
Serviço Nacional de Informações
Serviço Nacional de Informações:
Logo após a eclosão do golpe, no dia 13 de junho de 1964, foi criado o Serviço Nacional de Informações
(SNI), onde eram catalogados e fichados aqueles que eram considerados inimigos
do Estado.
Dirigentes
do SNI, caso achassem oportuno, expediam ordens de vigilância, quebra de sigilo
postal e telefônico daqueles suspeitos que eram considerados perigosos à
Segurança Nacional.
O SNI
substituiu o DNI (Departamento
Nacional de Propaganda), que por sua vez havia substituído o DIP (Departamento de
Imprensa e Propaganda), que substituiu o Departamento
de Propaganda e Difusão Cultural, (DPDC) que em 1934 havia substituído o Departamento Oficial de Propaganda,
DOP. Logo, seu acervo era gigantesco, pois, detinha informações de milhares
cidadãos brasileiros.
O Ipes, (Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais (Entidade fundada em 02 de Fevereiro de 1962, cujo
financiamento foi procedido por empresas brasileiras e estrangeiras), forneceu
milhares de dossiês, gravações de grampos telefônicos e documentos ao SNI, pois
seu comandante, o general Golbery do Couto e Silva era diretor do
instituto.
O SNI
coordenava e catalogava todas as informações que poderiam ser relevantes:
cidadãos e suas ações eram rastreados, grampeados, fotografados. O principal
foco no rastreamento e na interceptação de informações eram os movimentos de
esquerda. O serviço foi mantido durante o governo do Presidente José Sarney
(1985-1990) com uma estrutura denominada de "comunidade de
informações" que contava com 248 órgãos integrantes do sistema do SNI.57
Institucionalização das penas de morte e perpétua
Em função
dos acontecimentos que começaram a se radicalizar, aumentando os casos de
sequestro, assaltos a bancos para financiar o combate a ditadura, assassinatos
de recrutas das Forças Armadas para roubo de armas e munições, no dia 18 de
Setembro de 1969 os ministros militares e ministros civis que
assumiram ao governo mandam aprovar nova Lei de Segurança Nacional, que
institucionalizou a pena de morte e a prisão perpétua em território brasileiro,
contudo por engano de interpretação, já que a pena de morte já era prevista na
Constituição vigente e também continuou prevista na Constituição Cidadã de
1988, nos casos de crimes militares cometidos em tempo de guerra e conflito
armado.58
Governos: Castello Branco
Humberto de Alencar Castello Branco,
o primeiro presidente do regime militar.
No dia 11, o
Congresso Nacional ratificou a indicação do comando militar, e elegeu o
marechal Humberto de Alencar Castello Branco,
chefe do Estado-Maior do Exército. Como vice-presidente foi eleito o deputado
pelo PSD José Maria Alkmin, secretário de finanças do
governo de Minas Gerais, do governador Magalhães
Pinto, que ajudou a articular o golpe. A posse de Castello Branco
ocorreu em 15 de abril de 1964. Governou o Brasil até
março de 1967.
O presidente
Castello Branco iniciou o governo militar. Compôs o seu governo com
predominância de políticos da UDN. Dizia que a intervenção tinha caráter corretivo e era
temporária. Porém, as Forças Armadas, lideradas pelo general Costa e Silva,
não tinham interesse no papel de moderador, mas sim em "estabelecer a
Linha Dura" de repreensão às atividades políticas de esquerda
consideradas pelos militares golpistas como "terroristas".
Castello
Branco morreu, logo após deixar o poder, em um acidente aéreo, mal explicado
nos inquéritos militares, ocorrido em 18 de julho
de 1967. Um caça T-33 da FAB atingiu a cauda do Piper Aztec PA
23, no qual Castello Branco viajava, fazendo com que o PA-23 caísse deixando
apenas um sobrevivente.59
60
No processo sucessório, Castello foi pressionado a passar a faixa presidencial
para o general da linha dura Arthur da Costa e Silva mas estava
organizando com o Senador Daniel Krieger um movimento contra o
endurecimento do regime.61
Atos Complementares
O ex-presidente Juscelino Kubitschek teve os direitos políticos cassados em 8 de junho
de 1964.
Castello
Branco, apesar das promessas de retorno ao regime democrático, inaugurou a
adoção de Atos Institucionais como instrumentos de repressão aos opositores.
Com isso, fechou associações civis, proibiu greves, interveio em sindicatos e
cassou mandatos de políticos por dez anos, inclusive o do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Em novembro
de 1965, foi mandado cumprir o Ato Complementar Número 4, que institucionalizou
o sistema bipartidário no Brasil. Foram criados dois partidos, um situacionista
e um oposicionista, sendo que o segundo jamais poderia ter quórum superior ao
primeiro.
O partido
situacionista, formado por integrantes dos extintos PSD e UDN e chamado de Aliança Renovadora Nacional, ARENA, dava
sustentação ao governo, portanto era obrigatório que tivesse maioria. O partido
oposicionista foi nominado Movimento Democrático Brasileiro,
MDB. A população da época tinha um trocadilho para se referir aos dois
partidos, …um era o partido do "não", o MDB que era contra tudo
que o regime militar e seus presidentes faziam, e o outro, era o partido do
"sim senhor", a ARENA que aprovava tudo que o governo fazia.
Os membros
do MDB que incluíam os comunistas do PCB abrigados no MDB não aceitavam a luta
armada como alternativa de oposição ao regime militar e se intitulavam
"Resistência Democrática".
Sob
justificativa do crescimento dos movimentos de esquerda e pela influência da
propaganda pelos movimentos chamados de subversivos (veja o artigo: A esquerda armada no Brasil),
observando ainda que a população brasileira mais humilde iniciava um movimento
em direção à esquerda, a elite brasileira e a classe média começaram a temer o
rápido avanço do chamado, pelos anticomunistas de perigo vermelho ou perigo
comunista.
Segundo
relatos publicados pelo Departamento de Documentação Histórica da Fundação
Getúlio Vargas:62
- (sic)…Os militares
envolvidos no golpe de 1964 justificaram sua ação afirmando que o objetivo
era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e deter a
"ameaça comunista" que, segundo eles, pairava sobre o Brasil.
Em 17 de
julho, sob a justificativa de que a reforma política e econômica planejada pelo
governo militar poderia não ser concluída até 31 de janeiro de 1966, quando
terminaria o mandato presidencial inaugurado em 1961, o Congresso aprovou a
prorrogação do seu mandato até 15 de março de 1967, adiando as eleições
presidenciais para 3 de outubro de 1966. Esta mudança fez com que alguns
políticos que apoiaram o movimento passassem a criticar o governo, a exemplo de
Carlos
Lacerda, que teve sua pré-candidatura homologada pela União Democrática Nacional (UDN) ainda em
8 de novembro de 1964. Na esteira dos Atos Institucionais, foram expedidos Atos
Complementares.
Nas
eleições, realizadas em outubro de 1965, o governo venceu na maioria dos
estados mas foi derrotado nos dois mais importantes, Guanabara e Minas Gerais,
onde foram eleitos, respectivamente, Francisco Negrão de Lima e Israel
Pinheiro, apoiados pela coligação PSD/PTB. Em consequência disto, o presidente
Castelo Branco editou, em 27 de outubro de 1965, o Ato Institucional nº 2, AI-2, que, entre outras
medidas, extinguia os partidos políticos, estabelecia eleições indiretas para a
presidência da República, facilitava a intervenção federal nos estados e
autorizava o presidente da República a cassar mandatos parlamentares e
suspender os direitos políticos.. O que era um movimento militar passou a se
constituir num regime, evoluindo para uma linha dura no comando do marechal Artur da Costa e Silva (1967-1969).
Costa e Silva: Artur da Costa e Silva
Ex-ministro
da Guerra, o marechal Costa e Silva teve o seu nome indicado pelas Forças
Armadas e referendado pelo Congresso Nacional. No dia 15 de março de 1967, o
marechal Artur Costa e Silva é empossado no cargo de
Presidente da República, tendo como vice Pedro Aleixo.
Com sua posse começa a vigorar a Constituição de 1967. O Presidente deixa o
cargo no dia 31 de Agosto de 1969.
Com
predominância de ministros militares e civis - o paulista Antônio Delfim Netto era o ministro da
Fazenda - o novo presidente organizou o seu ministério. As taxas de inflação
caíram nos primeiros anos de governo reaquecendo a economia e aumentando a presença
de investimento estrangeiro no país.
No campo
político, porém, não havia sinal de retorno à democracia plena. Os militares
defendiam um endurecimento maior do regime, a chamada "linha dura".
Vieram as perseguições políticas, em missões organizadas pelos órgãos de
segurança do governo. Uma onda de protestos surgiu em todo o país, com
enfrentamento direto entre as forças de segurança contra os manifestantes
pró-comunismo, militantes de esquerda e estudantes cooptado por organizações
subversivas, crescendo para grandes manifestações reivindicatórias e de
contestação ao regime e a intolerância e as desavenças eram comuns, as patrulhas ideológicas organizadas pelos
comunistas agiam nas escolas, clubes e sindicatos. Na esteira dos
acontecimentos, os que apoiaram o golpe militar, como Carlos
Lacerda, se sentiram excluídos do processo e passaram a se opor ao
governo. Lacerda tentou se unir a Juscelino e Jango, que se encontravam
exilados, num movimento que ficou conhecido como Frente Ampla.
No início de
seu governo os protestos estavam disseminados por todo o Brasil, o que provocou
o recrudescimento do Estado. Na mesma proporção, a oposição, que em muitos
casos já estava na clandestinidade havia algum tempo, começou a radicalizar
suas ações com assaltos a bancos, ataques a soldados para roubo de armas e
sequestros de líderes militares.
A violência
da ditadura militar começa a fazer suas vítimas,
sobretudo contra o lado opositor ao regime - guerrilheiros, comunistas,
estudantes e liberais. Os confrontos entre grupos antagônicos se intensificam,
com revoltosos de um lado e apoiadores do regime de outro.
No governo
estavam oficiais da linha dura, e as ruas eram dominadas pelas greves dos operários
e movimentos estudantis, organizações essas lideradas por membros de esquerda.
Neste clima, iniciou-se a controvertida batalha entre o Estado e manifestantes
que reivindicavam o fim do regime. Como consequência, as liberdades individuais
foram suprimidas e o país definitivamente entrou em um processo de
radicalização entre os militares e a oposição, que gerou o gradual fechamento
do regime,
até culminar com o AI-5.
No dia 28 de Agosto
de 1969, o presidente Costa e Silva é acometido por trombose
grave. Devido à doença, no dia 31 de Agosto de 1969 uma junta militar substituiu o Presidente da República e se confirmou no
poder, para evitar que o Vice-Presidente Pedro Aleixo assumisse, pois esse se
opora à implantação do AI-5, sendo o único a votar contra o AI-5 na reunião do
Conselho de Segurança Nacional que decidiu pela implantação do AI-5.
A Junta
Militar era composta pelos ministros do Exército (Aurélio de Lira Tavares), Força Aérea (Márcio de Sousa e Melo) e Marinha (Augusto Hamann Rademaker Grünewald).
No dia 1 de Setembro de 1969, o AI-12, foi baixado informando à nação
brasileira o afastamento do presidente e o controle do governo do Brasil pelos
ministros militares.
Emílio Médici :Emílio Garrastazu Médici e Milagre econômico brasileiro
No dia 30 de
Outubro de 1969, o general Emílio Garrastazu Médici assumiu a
Presidência da República, sendo o terceiro general a ocupar o cargo;
inicialmente consolidou a comunidade de informações, interligando todos os
escritórios ligados ao SNI.
Segundo a imprensa, o combate às esquerdas se intensificou com o início da guerra suja.
A repressão aos movimentos de esquerda se intensificou, todos os aparelhos de
estado estavam interligados e funcionando a plena potência, os sistemas de
vigilância também estavam coordenados e liderados por profissionais treinados
nos Estados
Unidos.
Logo no
início do governo começou a propagação da propaganda institucional visando à
elevação do moral da população. Slogans eram fartamente distribuídos e
divulgados a todo instante em todos os meios de comunicação.
Músicas de
apelo cívico eram divulgadas diariamente; a que mais se fixou no inconsciente
coletivo foi a música intitulada Este é um país que vai pra frente.
Frases de efeito também eram divulgadas e decalques distribuídos em todas as
escolas infantis.
Ao mesmo
tempo se iniciou uma campanha de emprisionamento, tortura e morte
institucionalizada nos porões da ditadura, onde pessoas eram torturadas
e mortas pela repressão, ao mesmo tempo em que se intensificaram os atentados e
os sequestros praticados pelas guerrilhas.
O presidente
Médici, mesmo dispondo do AI-5, não cassou mandato de nenhum político, nos seus
4 anos e meio de mandato.
O I Plano
Nacional de Desenvolvimento - PND (1972-1974), definiu as prioridades do
governo Médici: crescer e desenvolver aproveitando a conjuntura internacional
favorável. Nesse período o Brasil cresceu mais depressa que os demais mercados
latino-americanos.63
Foram atingidos altos índices de desenvolvimento econômico sob a ideia do surto
de progresso que o país estaria vivendo. O governo anunciava à população o
"milagre econômico", ou "milagre brasileiro", projeto
conduzido pelo então Ministro da Fazenda, Delfim Neto. Com a abertura do país
ao capital estrangeiro, dezenas de empresas multinacionais se instalaram no
Brasil e os grandes fazendeiros passaram a produzir para exportação.
Emílio Garrastazu Médici (à esquerda) com
o então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon,
em dezembro de 1971.
Sobre o
momento do "milagre brasileiro", Celso Furtado.64
se expressa: "Em síntese, nesse período, não obstante um considerável
aumento do produto interno, não se assinala, na economia brasileira, nenhum
ganho de autonomia na capacidade de auto-transformação, nem tampouco qualquer
reforço da aptidão da sociedade para auto-financiar o desenvolvimento".
O Ministro
da Fazenda de Médici, Delfim Neto, justificava a distribuição de
renda: "Não se pode colocar a distribuição de renda na frente da
produção. Se o fizermos, acabaremos distribuindo o que não existe".20
Delfim Neto defendia com esta frase a necessidade de investimento prévio em
infra-estrutura como as usinas hidrelétricas sem as quais não haveria aumento
da produção nacional.
O grande beneficiado
do "milagre" foi o capital estrangeiro e as empresas estatais que se
expandiram muito durante o regime militar, especialmente a Petrobrás, a Vale do
Rio Doce e a Telebrás. Sufocada a economia nacional privada, pequenas e médias
empresas, perdiam espaço e o endividamento externo crescia. Os trabalhadores,
por sua vez, tinham seus salários aviltados, porém estando a inflação baixa até
a crise do petróleo de 1973. O maior crítico desse período foi o empresário
Kurt Rudolf Mirror que escreveu o livro "A ditadura dos cartéis", que
chegou a ser censurado.
O
"milagre econômico" (1963-1973) - era justificado pelo crescimento do
PIB e, entre outros
aspectos sociais e econômicos, pelo surgimento de uma nova classe média.
Médici
utilizou a propaganda
institucional maciça para promover o regime. Estabeleceu o Senador Filinto
Müller, conhecido internacionalmente como "O carrasco que
servia a Getúlio Vargas", como presidente do
Congresso Nacional e como chefe do partido situacionista, a ARENA.
A principal
realização do governo Médici foi terminar com os movimentos guerrilheiros e
subversivos existentes no Brasil, combate este que ficou a cargo do ministro do
exército Orlando Geisel. A maior guerrilha brasileira, a
Guerrilha do Araguaia, foi finalmente
derrotada, abrindo espaço para que o sucessor de Médici, Ernesto
Geisel, iniciasse a abertura política.
Ernesto Geisel
Geisel
assumiu o governo (1974-1979) em um período de ajustamento e redefinição de
prioridades, grave endividamento externo, flutuações de desempenho,
dificuldades inflacionárias, e, mais tarde, a recessão: o milagre econômico
chegava ao fim.
Segundo
analistas econômicos, o crescimento da dívida externa, mais a alta dos juros
internacionais, associados à alta dos preços do petróleo
após a Guerra do Yom Kipur no Oriente Médio,
somaram-se e desequilibraram o balanço de pagamentos brasileiro.
Consequentemente houve o aumento da inflação
e da dívida interna.
Com estes
fatores, o crescimento econômico que era baseado no endividamento externo,
começou a ficar cada vez mais caro para a Nação brasileira. Apesar dos sinais
de crise, o ciclo de expansão econômica iniciado em meados de 1969 não foi interrompido.
Os incentivos a projetos e programas oficiais permaneceram, as grandes obras
continuaram alimentadas pelo crescimento do endividamento, como a Ponte Rio-Niterói, necessária para a fusão dos estados do Rio de
Janeiro e da Guanabara que se deu em 1975, a Transamazônica
e as grandes hidrelétricas (Tucuruí, Itaipu, etc). Também é de Ernesto Geisel o
projeto de lei que cria o estado de Mato Grosso do Sul, entre 1977 e 1979.
A chegada de
Jimmy Carter
à Casa Branca
em 1977 também dificultou a sustentabilidade político-econômica do governo
revolucionário, visto que Carter foi o primeiro presidente desde o assassinato de John Kennedy
em 1963
que não deu pleno apoio norte-americano a regimes anticomunistas
autoritários na América Latina.
Durante o
governo Geisel, o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a
independência de Angola
e Moçambique
que se tornaram, logo após a independência, países socialistas.
Uma das
estratégias do governo para enfrentar o momento de crise era constituir um meio
de ir abrandando alguns aspectos da ditadura. A esse movimento deu-se o nome de
"distenção". Gradual e vagarosamente iniciava-se um processo de
transição para a democracia plena sem "acerto de contas"" com o
passado: sem questionamentos quanto às medidas adotadas pelo governo em relação
à economia e, principalmente, em relação à condução política. Geisel chamava a
esta distenção de: "abertura lenta, gradual e segura", a fim de não
criar atritos com militares da linha-dura que não queriam a abertura política.
Com a crise
econômica veio a crise política, nas fábricas, comércio e repartições públicas
o povo começou um lento e gradual descontentamento. Iniciou-se uma crise
silenciosa onde todos reclamavam do governo (em voz baixa) e de suas atitudes.
Apesar da censura
e das manipulações executadas pela máquina estatal numa tentativa de manter o
moral da população, a onda de descontentamento crescia inclusive dentro dos
quadros das próprias Forças Armadas, pois os militares de baixo escalão sentiam
na mesa de suas casas a alta da inflação.
Abertura política
Abertura política: Com o tempo, vendo que o
país estava indo para uma inflação desencadeada pela falta de incentivos aos
insumos básicos, os militares, liderados por Geisel, resolveram iniciar um
movimento de distensão para abertura política institucional, lenta, gradual
e segura,65
segundo suas próprias palavras. Este movimento acabaria por reconduzir o país
de volta à normalidade democrática.
João Batista Figueiredo
Sílvio Frota
general da chamada "linha dura" é expurgado do governo com a sua
exoneração do Ministério do Exército, pois estava articulando manobras contra a
distensão. A demissão de Frota do cargo de Ministro do Exército por Geisel
simbolizou o retorno da autoridade do Presidente da República sobre os
ministros militares, em especial do Exército. Esta lógica esteve invertida
desde o golpe de 64 com diversos ministros
militares definindo questões centrais do país tais como a sucessão
presidencial. Foi um passo importante no processo de abertura política com
posterior redemocratização plena do país e retorno dos civis ao poder.
Em 1978, novas regras são
impostas à sociedade brasileira. Novamente é aumentado o arrocho contra as
liberdades individuais e coletivas da população, alguns setores produtivos são
postos sob a "Lei de Segurança Nacional", sob a
razão de serem de importância estratégica para o país. São proibidas as greves
nos setores petrolífero, energético e de telecomunicações. A sociedade responde
com mais descontentamento ainda.
Em 23 de
agosto o MDB indica o General Euler
Bentes Ribeiro e o senador Paulo
Brossard como candidatos a presidente e vice.
No dia 15 de
outubro, o Colégio Eleitoral elege o general João Batista de Oliveira Figueiredo,
candidato apoiado pelo então presidente Geisel, para presidente, com 355 votos,
contra 266 do general Euler Bentes.
Em 17 de
outubro de 1978, a Emenda Constitucional nº 11 revogou o AI 5.
Em 1979,
lança a "Anistia", caminho direto a redemocratização
e a reforma partidária, que pôs fim ao bipartidarismo.
Essa reforma permitiria a divisão da oposição e como resultado, a divisão das
ideias divergentes que não permitiam a ascensão do MDB.66
Com uma nova
estrutura política em 1982 no país, os militares encontram dificuldades para
manter-se no poder, já que as eleições diretas para governadores elegem dez da
oposição, incluindo os de SP, RJ e MG, os mais fortes na disputa política.67
Com a posse
de João Baptista de Oliveira Figueiredo e a crise econômica mundial aumentando
aceleradamente, a quebra da economia de muitos países, inclusive do Brasil se
iniciou. As famosas medidas "ortodoxas" impostas por Delfim Netto e pelo banqueiro ministro Mário Henrique Simonsen na economia,
vieram a agravar ainda mais a situação monetária do país, fazendo o PIB despencar 2,5% em
1983. Durante esse período ocorreu no Brasil um fenômeno inédito na história da
economia mundial conhecido como estagflação.68
Reações: Em julho, ocorreu a primeira greve no período da ditadura militar, em Osasco,
liderada por José Ibrahim. A linha dura, representada,
entre outros, pelo general-de-exército Aurélio de Lira Tavares, Ministro do
Exército, e pelo general-de-exército Emílio Garrastazu Médici, chefe do SNI, começou a exigir
medidas mais repressivas e combate às ideias consideradas subversivas pelo
regime.
A repressão
aos estudantes de tendências esquerdistas nas universidades se intensificou. Em
30 de agosto,
a Universidade Federal de Minas
foi fechada e a Universidade de Brasília invadida pela
polícia. O AI-5 se transformou num instrumento para o aumento da violência,
intensificando também a atividade de organizações guerrilheiras. Como
consequência direta do Ato, foram presos jornalistas e políticos que haviam em
algum momento se manifestado contra a ditadura militar, entre eles o
ex-presidente Juscelino Kubitschek, e ex-governador Carlos Lacerda, além de
deputados estaduais e federais do MDB e mesmo da ARENA. Lacerda foi preso e
conduzido ao Regimento Marechal Caetano de Farias, da Polícia Militar do Estado
da Guanabara, sendo libertado por estar com a saúde debilitada, após uma semana
de greve de fome.
No dia 30 de
dezembro de 1968, foi divulgada uma lista de políticos cassados: onze deputados
federais, entre os quais o comunista Márcio Moreira Alves. Até mesmo Carlos
Lacerda, que tramou diversos golpes nos anos 1950 e 60, teve os direitos
políticos suspensos. No dia seguinte, o presidente Costa e Silva
falou em rede de rádio e TV, afirmando que o AI-5 havia sido não a melhor, mas
a única solução e que havia salvado a democracia e estabelecido a volta às
origens do regime. Segundo ele, para "evitar a desagregação do
regime", era necessário cercear os direitos políticos dos cidadãos e
aumentar em muito os poderes do presidente, mesmo sem o aval popular.69
Em 16 de janeiro,
de 1969 foi divulgada nova lista de quarenta e três cassados, com trinta e
cinco deputados, dois senadores e um ministro do STF, Peri Constant Bevilacqua.
O Poder Judiciário passou a sofrer intervenções do Poder Executivo quando de
seus julgamentos.
A esquerda
alega ter iniciado as guerrilhas como reação ao AI-5. Segundo Reinaldo
Azevedo, jornalista da revista Veja,
dezenove brasileiros foram mortos por guerrilheiros antes ter sido baixado o
AI-5. Entre eles, estava o soldado Mário Kozel Filho morto em junho de 1968 em
ação da VPR,
e os mortos do Atentado do Aeroporto dos Guararapes,
supostamente por ação da Ação Popular (esquerda cristã),
em 1966.70
Concomitantemente a uma tímida abertura política, no governo Geisel, na mesma
época em que a "resistência democrática" do MDB saia vitoriosa nas
eleições de 15 de novembro de 1974 fazendo 16 das 21 cadeiras de senador em
disputa, as guerrilhas acabaram perdendo força. Isso também se deveu a
operações repressivas governamentais que visavam eliminar a oposição (fosse
armada, ou não armada que apoiasse a guerrilha), e que ocasionou o fim da Guerrilha do Araguaia, ocorrido entre 1973
e 1974.71
Em entrevista à revista IstoÉ, concedida no ano de 2004, um general afirmou que,
concluiu-se em 1973 que "ou se matava todo mundo ou essas guerrilhas nunca
mais teriam fim”.72
As famílias
dos presos, mortos e desaparecidos no período, que foram identificados, foram
indenizadas pelo governo brasileiro a partir da década de 1990.
De acordo com o livro “Direito à memória e à verdade”, publicado pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos do governo Lula, 475 pessoas morreram
ou desapareceram por motivos políticos naquele período73
. As indenizações somam mais de R$ 4 bilhões.74
O processo indenizatório é alvo de críticas, como a de que seria injusto por
considerar a renda perdida e não o dano causado pelo Estado75
que indenizaria pessoas que não fariam juz ao benefício.76
Cerca de 119
pessoas foram mortas por guerrilheiros de esquerda no mesmo período, segundo
dados do jornalista Reinaldo Azevedo.77
78
79
80
Algumas vítimas dos guerrilheiros também foram indenizados. A família do
soldado Mário Kozel Filho foi indenizada com pensão
mensal de 1.150 reais. Kozel Filho teve seu corpo dilacerado num atentado
assumido pelo grupo do guerrilheiro Carlos Lamarca.81
Orlando Lovecchio, que perdeu a perna em explosão planejada por guerrilheiros
de esquerda, recebe uma pensão vitalícia de R$571.82
Ativismo estudantil
União Nacional dos Estudantes: No dia 27 de Outubro
de 1964, o Congresso Nacional extingue a União Nacional dos Estudantes (UNE) e todas as uniões de
estudantes estaduais, aprovando a Lei Suplicy. O governo
militar torna obrigatório o ensino do idioma inglês
em todas as escolas públicas e privadas do Brasil, como resultado de
negociações entre o Governo Federal e o governo dos Estados Unidos chamado na
época de Acordo
MEC-Usaid. Os EUA, maiores aliados da ditadura de direita no Brasil,
passava a influenciar e infiltrar-se ainda mais a cultura no Brasil, com ações
mútuas dos governos neste sentido.
Apesar do
desmonte do Estado de Direito, a ditadura queria passar a ideia de que estava
protegendo a democracia dos seus inimigos: os "comunistas".
Organizados em entidades como a UNE e a UEE, os estudantes eram - aos olhos dos
militares - um dos setores mais identificados com a esquerda e com o comunismo.
Eram qualificados de subversivos e desordeiros, numa pretensão clara de
justificar a violenta perseguição que se seguiu. Os estudantes reagiam à Lei
Suplicy de Lacerda, que proibia os estudantes de organizarem suas entidades e
realizarem atividades políticas, com manifestações públicas cada vez mais concorridas
contra a privatização e a ditadura militar.
O SNI,
criado com o objetivo principal de reunir e analisar as informações relativas à
segurança nacional, tornou-se um poder político paralelo ao Executivo atuando
como "polícia política". Cada vez mais repressor, o governo da
ditadura fechou a Universidade de Brasília no dia 11 de Outubro
de 1965,
e transferiu para a justiça militar o julgamento dos civis acusados de
"criminosos políticos". O campus da UNB é invadido por tropas e pela
polícia. Professores e funcionários são expulsos da Universidade e demitidos,
muitos por reagirem acabam presos por desacato à autoridade. Alunos foram
presos, espancados e torturados, alguns com certa gravidade, sob alegação de
cometerem crime de subversão.
Além da luta
específica, pela ampliação de vagas nas universidades públicas e por melhores
condições de ensino, as manifestações estudantis acabaram se transformando em
palco da sociedade desejosa do restabelecimento da democracia. O ano de 1968 foi marcado pela luta
contra a ditadura, que atraia cada vez mais participantes: profissionais
liberais, artistas, religiosos, operários, donas-de-casa. O movimento contra a
direita e o estabelecimento do sistema foi mundial naquele ano, com movimentos
no mundo todo, tanto nos países do Bloco capitalista quanto o Bloco comunista
assim como nos países não alinhados.
No Brasil as
manifestações públicas eram cada vez mais reprimidas pela polícia. A direita
mais agressiva formou o Comando de Caça aos Comunistas
(CCC) que, entre outros atos, metralhou a casa de Dom Hélder Câmara, em Recife.
Uma
manifestação contra a má qualidade do ensino, no restaurante estudantil
Calabouço, no Rio de Janeiro, sofreu violenta repressão pela polícia e resultou
na morte do estudante Edson Luís de Lima Souto. A reação dos
estudantes foi imediata. A eles se aliaram setores progressistas da Igreja
Católica e da sociedade civil, culminando em um dos maiores atos públicos
contra a repressão, a passeata dos cem mil.
Ocupação da Universidade de Brasília
Em Setembro,
a Polícia Militar ocupou a Universidade de Brasília novamente, o
então deputado do MDB, Márcio Moreira Alves, do Rio de
Janeiro, sugeriu que em resposta à repressão militar a população
boicotasse o desfile de 7 de setembro de 1968, e as moças não namorassem
oficiais enquanto estes não denunciassem a violência.
Em Ibiúna,
São Paulo, 12 de outubro de 1968, durante o 30º Congresso da UNE, a polícia invadiu a
reunião e prende 1240 estudantes, muitos são feridos, alguns gravemente; quando
levados para a prisão são torturados e muitas moças abusadas sexualmente pelos
policiais. Aqueles que tentam protestar contra a violência são espancados e
humilhados publicamente, os familiares que tentam entrar com habeas-corpus
são fichados pelo SNI e ameaçados pelas forças de segurança. Alguns pais, por
serem funcionários de instituições públicas, perdem seus empregos e são
perseguidos pelas forças de repressão; alguns repórteres que presenciaram os
espancamentos tiveram seus equipamentos destruídos pelos policiais.
Conflitos, perseguição e protestos
Cartaz de 2009, que estiliza a foto oficial do alegado suicídio do
jornalista Vladimir Herzog, é utilizado por manifestantes
na porta do jornal Folha de S.Paulo, em protesto contra um editorial do
jornal que teria chamado a ditadura militar de "ditabranda".
As
manifestações e protestos ganham as ruas em quase todas as principais cidades
do Brasil. Os estudantes começam também a radicalizar suas ações. Com a chegada
do general Artur da Costa e Silva ao poder, o83
, as greves
dos operários
tomaram corpo, na mesma proporção em que a linha dura já fazia suas vítimas.
Em 28 de
março de 1968, quando da preparação de uma passeata de protesto que se
realizaria em função do mau funcionamento do restaurante do Calabouço, cujas obras
ainda não haviam terminado, havendo ratos, baratas e falta de higiene, para o
fornecimento de alimentação aos adolescentes estudantes do científico (segundo
grau), o estabelecimento foi invadido pela Polícia Militar. Segundo
oficialmente noticiado, a causa da invasão daquele estabelecimento pela Polícia
Militar era a reunião de comunistas que estariam armando um golpe violento para
desestabilizar o regime. A invasão resultou na repressão violenta de seiscentos
alunos e na morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, assassinado com
um tiro no coração, com uma pistola calibre 0.45, pelo tenente Alcindo Costa,
que comandava o Batalhão Motorizado da PM.84
Quando o
restaurante estudantil Calabouço, no Rio de
Janeiro, foi invadido pela Polícia
Militar, e Édson, de dezesseis anos de idade, assassinado, a
violência policial continuou. Outros estudantes, curiosos e transeuntes foram
feridos por estilhaços de granadas, intoxicados por bombas de gás lacrimogêneo, gás fumígeno, atingidos por
balas de fuzis e metralhadoras disparadas a esmo.
Os
confrontos entre a polícia e estudantes recrudesceram: os policiais utilizavam
fuzis 0.30, metralhadoras automáticas INA 0.45, escopetas calibre 12, pistolas
de grosso calibre Colt 45, granadas estilhaçantes reais, granadas de gás
lacrimogêneo, granadas de efeito moral, cavalaria hipo e autopropulsada com
metralhadoras ponto cinquenta; os estudantes usavam como armas paus, pedras,
bombas caseiras, feitas com álcool e óleo de cozinha, e bolinhas de gude para
derrubar as montarias.
Segundo a
imprensa84
(apesar da censura ferrenha) e registros nos hospitais locais, os feridos foram
duzentos civis, a maioria por espancamento, cento e três gravemente feridos,
oitenta e cinco por tiros de armas de fogo e estilhaços de artefatos
explosivos, e quatro militares com ferimentos leves. O tenente autor do tiro
foi preso e, após responder inquérito, foi liberado impune.
Em 29 de
março de 1968, houve um protesto de 50 mil pessoas no centro do Rio. Em junho,
uma multidão calculada em 100 mil pessoas realizou durante mais de sete horas
uma passeata de mães, padres,
estudantes, artistas e intelectuais pela liberdade dos presos, pelo ensino
superior gratuito. Foram 100 mil cidadãos a protestar, o movimento estudantil,
setores da Igreja Católica e grupos de senhoras, que
anteriormente haviam incentivado a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade e a Marcha da Vitória, promoveram em passeata a segunda
maior mobilização do período contra o regime ditatorial até então, perdendo
somente para o comício da Praça da Sé,
em São Paulo.85
Segundo a
imprensa, o movimento não registrou qualquer distúrbio. Começou com uma
concentração na Cinelândia, às dez horas e trinta minutos, seguiu pelo Largo da Candelária às 15 horas onde se deteve
por 45 minutos para um comício, em seguida, rumou pela rua Uruguaiana
até a estátua de Tiradentes, na Praça Quinze,
onde encerrou às 17 horas.
Agentes do DOPS e do SNI acompanharam todo o
movimento, filmando e fotografando a maior quantidade possível de
manifestantes, principalmente os líderes. O DOPS prendeu cinco estudantes que
distribuíam panfletos, um policial que incitava o apedrejamento do prédio do Conselho de Segurança Nacional
também foi preso e solto logo em seguida, ao ser constatada a sua função.
Em Outubro
de 1968,
os estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo (USP) entram em
conflito ideológico com os estudantes da Universidade Mackenzie. Um tiro de
pistola, Colt calibre 45, atingiu a cabeça de José Guimarães. O então governador de São Paulo Abreu Sodré
informou à imprensa
e aos estudantes horário e endereço errados do enterro e a divulgação do
conflito de rua foi censurada.
Os
estudantes se enfrentavam no começo com ovos, depois com pedras, paus e até
bombas, enquanto a polícia assistia a tudo sem intervir. Afinal, estudantes
ligados ao CCC incendiaram o prédio
da USP com coquetéis molotov, jogados de ambos os lados. Depois
de horas de enfrentamento, um tiro vindo do prédio da Mackenzie feriu
mortalmente o jovem secundarista e menor de idade João Guimarães. Os estudantes
da USP, com a camisa ensanguentada do estudante, tomaram as ruas de São Paulo e
entraram em choque com a repressão. Os estudantes se manifestavam com
barricadas, pregos para furar os pneus dos carros da polícia e bolas de gude
para derrubar a cavalaria.86
Perseguição política e movimentos de esquerda
No dia 4 de
novembro de 1969, o deputado Carlos
Marighella, líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), foi
morto a tiros, na Alameda Casa Branca, em São Paulo.
Esta operação teve a participação direta do delegado Sérgio Paranhos Fleury, considerado como
um dos mais brutais torturadores deste período. Coube ao Delegado
Fleury, entre outras operações, a eliminação de Carlos
Lamarca, o mesmo que matou, a coronhadas, o tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo,
Alberto Mendes Júnior, que foi torturado antes de morrer.87
A respeito
da tática de guerrilha, usada por parte da oposição esquerdista ao regime
militar, o seu maior incentivador foi Carlos Marighela, que assim se posicionou
sobre guerrilhas, especialmente sobre a guerrilha rural como a "guerrilha
do Araguaia':
|
“O
princípio básico estratégico da organização é o de desencadear, tanto nas
cidades como no campo, um volume tal de ações, que o governo se veja obrigado
a transformar a situação política do País em uma situação militar, destruindo
a máquina burocrático- militar do Estado e substituindo-a pelo povo armado. A
guerrilha urbana exercerá um papel tático em face da guerrilha rural,
servindo de instrumento de inquietação, distração e retenção das forças
armadas, para diminuir a concentração nas operações repressivas contra a
guerrilha rural!
|
— Carlos
Marighela
|
Carlos
Marighela, em seu “Manual de Guerrilha” assim explicava como deveria ser a luta
armada visando a implantação do comunismo no Brasil:
|
|
— Carlos
Marighela
|
Principais acontecimentos
- O atentado no Aeroporto Internacional dos
Guararapes, em Recife, em 25 de
julho de 1966, visando atingir o candidato a presidente Costa e
Silva. Foram mortos o jornalista Edson Regis de Carvalho e o
almirante Nelson Gomes Fernandes e mais 20 feridos graves.
- No dia 26 de junho de
1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de
Janeiro e realizaram o mais importante protesto contra a ditadura militar
até então.88
- Em 26 de junho de 1968, é
atacado a bombas, o Quartel General do II Exército, em São Paulo, morre o
soldado Mário Kozel Filho.
- O Capitão do Exército dos
EUA enviado ao Brasil para ensinar "técnicas de interrogatório"
aos órgãos de repressão, Charles Rodney Chandler, é metralhado
em seu carro, no dia 12 de outubro de 1968.
- Em 24 de janeiro de 1969,
é atacado e assaltado o quartel do 4º RI, em Quitaúna
São Paulo, com o roubo de grande quantidade de armas e munições, com
intuito de fortalecer os armamentos dos guerrilheiros.
- No dia 4 de setembro de
1969, militantes da Ação Libertadora Nacional
(ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR-8), capturaram o embaixador dos Estados
Unidos, com intuito de trocá-lo por presos políticos e estudantes que
corriam risco de morte.89
- No dia 18 de julho de
1969, guerrilheiros brasileiros roubam o famoso "cofre do
Adhemar". De acordo com os revolucionários, esse dinheiro deveria ser
empregado na luta contra a ditadura, pois era fruto dos atos de corrupção
do ex-governador paulista Adhemar de Barros, conhecido pelo slogan
"rouba, mas faz".
- Em 11 de março de 1970,
revolucionários brasileiros sequestraram o cônsul japonês, Nobuo Okushi,
com a intenção de libertar presos políticos.
- Na noite de 8 de maio de
1970, após descobrirem que o tenente da Polícia Militar do Estado de São
Paulo Alberto Mendes Júnior havia se
infiltrado e delatado a VPR, o mesmo foi sequestrado por guerrilheiros e
executado a golpes de coronhadas no rosto pelo desertor do exército Carlos
Lamarca. Alberto tinha se entregue como refém em troca da
liberação de seus subordinados, que haviam se ferido no confronto com o
grupo de Lamarca.90
Atentado ao Gasômetro
No contexto
da oposição aos comunistas e esquerdistas em geral, o regime militar brasileiro
planejou várias ações com o intuito de incriminar setores de oposição por
atentados e ataques: o mais conhecido desses foi o caso Para-SAR, ou Atentado
ao Gasômetro.
Em 1968, o brigadeiro João Paulo Burnier, que era na época chefe de
gabinete do ministro Márcio Melo, planejou explodir o gasômetro do Rio de
Janeiro com o auxílio do Para-SAR, uma divisão da Aeronáutica
empregada para salvamentos em local de difícil acesso.
O projeto
foi levado adiante com grande segredo. Confiou-se a missão ao capitão-aviador Sérgio Miranda de Carvalho, que no entanto
negou-se a cumprir a missão e ameaçou denunciar Burnier caso tentasse levar o
plano adiante com outro oficial.
Sérgio foi
declarado louco
e afastado da Aeronáutica em 1969. O caso continuou abafado até 1978, quando o brigadeiro
Eduardo Gomes fez uma declaração defendendo seu colega, confirmando o projeto
de explosão de gasômetros e destruição de instalações elétricas para criar
pânico na população, revelando o caso para o conhecimento público.91
92
93
Sequestro do embaixador norte-americano
No dia 4 de Setembro
de 1969, o grupo de resistência armada MR-8, (Movimento Revolucionário 8 de Outubro),
sequestra o embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick. Em 5 de Setembro
de 1969, é mandado cumprir o Ato Institucional Número Treze,
ou AI-13, que institui o …(sic) banimento do território nacional o
brasileiro que, comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à
segurança nacional. Em 7 de Setembro de 1969 é liberado o Embaixador
americano e os 15 guerrilheiros presos libertados, e em função do AI-13, são
banidos para o México. Foram também sequestrados o embaixador alemão Ehrenfried von Holleben e o embaixador
suiço Giovanni Bucher.
Sindicatos e as greves no ABC paulista
Entre os
maiores adversários políticos que os militares da ditadura percebiam como sendo
perigosos, de esquerda e/ou comunistas estavam os sindicatos. Castelo Branco
usou a lei
trabalhista para eliminar a oposição sindical, interveio em
sindicatos e afastou seus líderes. O governo passou a definir a política
salarial, reorganizando o Conselho Nacional de Política Salarial de João
Goulart.nota 2
Os ministros Roberto Campos e Octávio Bulhões criaram regras complexas para o
cálculo do aumento de salários: reajuste a cada doze meses; aplicação do
reajuste com base na média salarial dos últimos dois anos e na produtividade
dos últimos doze meses; e, ainda, com base no reajuste da inflação residual do
ano seguinte previsto pelo governo.94
Em pouco mais de um ano, a ditadura impôs intervenção federal em cerca de
quinhentos sindicatos: as diretorias foram destituídas e interventores nomeados
pelo governo. Os dirigentes sindicais deveriam ter seus nomes aprovados pelo
Ministério do Trabalho.20
nota 3
A política
de arrocho salarial, além de diminuir o salário real dos trabalhadores, acabou
promovendo uma concentração de rendimentos, considerada uma das "mais
escandalosas" em todo o mundo.95
Em todos os anos da ditadura e renda real (descontada a inflação) média dos
trabalhadores caiu. Na luta contra a ditadura, dezenas de líderes sindicais
foram presos, outros optaram pelo exílio.
No governo
Geisel, apesar da força das medidas de repressão, a oposição continuava
crescendo. As greves do ABC Paulista aprofundaram a crise da ditadura.
Os trabalhadores exigiam reposição salarial com base nos índices de inflação de
1973. De acordo com o Banco Mundial, os índices foram manipulados pelo governo
Médici: o Ministro da Fazenda determinava que a inflação não fosse superior a
15%, mas o Banco Mundial estimara inflação próxima a 25% (1973).20
Fim do governo militar
Ulysses Guimarães segurando a Constituição de 1988 nas
mãos.
O final do
governo militar de 1964 culminou com a hiperinflação, e grande parte das obras
paralisadas pelos sertões do Brasil. Devido ao sistema de medição e pagamento
estatal, as empreiteiras abandonaram as construções, máquinas, equipamentos e
edificações.
Em 8 de maio
de 1985, o congresso nacional aprovou emenda constitucional que acabava com
alguns vestígios da ditadura. Algumas das medidas aprovadas:
- Por 458 votos na câmara e
62 no senado foi aprovada a eleição direta para presidente (mas em dois
turnos);
- Com apenas 32 votos
contra na câmara e 2 no senado, foi aprovado o direito ao voto para os
analfabetos;
- Os partidos comunistas
deixaram de ser proibidos;
- Os prefeitos de capitais,
estâncias hidrominerais e municípios considerados de segurança nacional voltariam
a ser eleitos diretamente;
- O Distrito Federal
passou a ser representado no Congresso Nacional por três senadores e oito
deputados federais.
- Acabou com a fidelidade
partidária;
Finalmente
em 28 de junho, Sarney enviou a emenda constitucional que convocava a
Assembleia Nacional constituinte, que foi aprovada em 22 de novembro (Emenda
Constitucional 26). Na verdade, por uma conveniência política, a Constituinte
seria composta pelos mesmos deputados legisladores.
Eleita em 15
de novembro de 1986 e empossada em 1 de fevereiro de 1987, a constituinte
funcionou até 5 de outubro de 1988 quando foi promulgada a Constituição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário